sexta-feira, 23 de novembro de 2007

APAIXONADOS INCOMPREENDIDOS

("O Vampiro", E. Munch)

O VAMPIRO (Baudelaire)

Tu que, como uma punhalada, entraste em meu coração triste; Tu que, forte como manada de demônios, louca surgiste, para no espírito humilhado encontrar o leito e o ascendente; Infame a que eu estou atado tal como o forçado à corrente, como ao baralho o jogador, como à garrafa o borrachão, como os vermes a podridão, maldita sejas, como for!Implorei ao punhal veloz que me concedesse a alforria, disse após ao veneno atroz que me amparasse a covardia. Ah! pobre! O veneno e o punhalisseram-me de ar zombeteiro: “Ninguém te livrará afinal de teu maldito cativeiro. Ah! imbecil - de teu retiro se te livrássemos um dia, teu beijo ressuscitaria o cadáver de teu vampiro!
* * *
Incompreendidos apaixonados são os vampiros. Desesperadamente apegados à "vida" ao ponto de a negligenciarem por completo em nome da eternidade. A eternidade possível, não importa a que custo. Românticos, solitários, filósofos, sábios, velhos, muito velhos. Atravessam o tempo, cronicando a existência humana, olhando de longe aquilo que não podem ter apesar de já em exceço desfrutarem. A relatividade da existência vazia e transbordante. O vampiro inveja o tempo, que não encerra e o homem, que sucumbe a uma curta passagem na terra. O limbo de partilhar dois mundos, os opostos, tudo e nada, sem experimentar nenhum plenamente. Melancólicos navegantes do tempo. Serão mito?

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