Havia um desconforto - um saboroso desconforto - no ar, enquanto eles aguardavam o embarque. Aquele hiato, imenso, de repente interrompido, deixando-os eloquentes; transformando pensamento em verbo. Tanta coisa que havia ficado no caminho, as mudanças que vieram com a passagem dos anos. Os [talvez doloridos] resultados das suas escolhas. Eles se olhavam, sorriam, trocavam comentários educados.
O sol avermelhava a janela pequenina, aquela janela cheia de segredos, em que ele lançava os seus pensamentos mais sinceros, como um pescador arremessa a linha no oceano. Como quem faz uma prece. Sem saber o que aquele encontro traria; ela, ali do seu lado, talvez séria demais. Ou talvez fosse apenas impressão. A fenda na saia deslizava de forma tímida, revelando um pouco mais daquela pele clara até então escondida.
Frio na barriga.
Olhavam-se, ocasionalmente. Um sorriso, um suspiro, uma voz contida, desejosa, com medo de falar algo errado. Ele segurou a mão dela, sobre a sua perna, e assim ficaram, de mãos dadas, meio namorados, na brevidade daqueles instantes contidos pela prisão de aço que rasgava o céu rumo ao desconhecido. Ele olhava a sua boca, vermelha, como o sol emoldurado entre as nuvens de sonho, e sentia um rompante, quase incrontrolável, de jogar as suas preocupações ao vento.
Conteve-se.
A cidade se erguia diante dos seus olhos curiosos, o rosto quase encaixado na janela do táxi preto e amarelo, que navegava a estrada rumo ao centro. Os dois de mãos dadas, meio adolescentes. E um horizonte de prédios e janelas, costurando-se como seres vivos, gigantes, revelando uma silhueta de coisa antiga. Aquela cidade velha. Aquela história velha.
O quarto do hotel era invadido pelos cartões-postais que se projetavam iluminados, da rua movimentada. Ele caminhou até a janela, máquina fotográfica em mãos; mais alguns registros. Ela caminhava pelo quarto, descalça, ao telefone.
Sentiu então o seu corpo envolvido pelos braços dela, carinhosos; aquela pele branca, coberta por uma penugem fina, salpicada de sardas. O hálito doce no seu pescoço. Os seus seios desenhando-se por baixo do vestido; o trote no seu peito virando galope.
Ele envolveu os braços dela sob os seus e os dois ficaram ali, juntos, contemplando a noite. Ele sentia o seu corpo magnetizado, elétrico, sensível, desmoronando no abismo de desejo que queria devorá-lo naquele quarto anônimo. Aquele reino, fundado ao acaso. Não era sonho; ela estava ali, abraçando o seu corpo, a cabeça depositada nas suas costas. E se era sonho, que ele não acordasse nunca mais.
Você será minha, pela eternidade das horas breves.
O sol avermelhava a janela pequenina, aquela janela cheia de segredos, em que ele lançava os seus pensamentos mais sinceros, como um pescador arremessa a linha no oceano. Como quem faz uma prece. Sem saber o que aquele encontro traria; ela, ali do seu lado, talvez séria demais. Ou talvez fosse apenas impressão. A fenda na saia deslizava de forma tímida, revelando um pouco mais daquela pele clara até então escondida.
Frio na barriga.
Olhavam-se, ocasionalmente. Um sorriso, um suspiro, uma voz contida, desejosa, com medo de falar algo errado. Ele segurou a mão dela, sobre a sua perna, e assim ficaram, de mãos dadas, meio namorados, na brevidade daqueles instantes contidos pela prisão de aço que rasgava o céu rumo ao desconhecido. Ele olhava a sua boca, vermelha, como o sol emoldurado entre as nuvens de sonho, e sentia um rompante, quase incrontrolável, de jogar as suas preocupações ao vento.
Conteve-se.
A cidade se erguia diante dos seus olhos curiosos, o rosto quase encaixado na janela do táxi preto e amarelo, que navegava a estrada rumo ao centro. Os dois de mãos dadas, meio adolescentes. E um horizonte de prédios e janelas, costurando-se como seres vivos, gigantes, revelando uma silhueta de coisa antiga. Aquela cidade velha. Aquela história velha.
O quarto do hotel era invadido pelos cartões-postais que se projetavam iluminados, da rua movimentada. Ele caminhou até a janela, máquina fotográfica em mãos; mais alguns registros. Ela caminhava pelo quarto, descalça, ao telefone.
Sentiu então o seu corpo envolvido pelos braços dela, carinhosos; aquela pele branca, coberta por uma penugem fina, salpicada de sardas. O hálito doce no seu pescoço. Os seus seios desenhando-se por baixo do vestido; o trote no seu peito virando galope.
Ele envolveu os braços dela sob os seus e os dois ficaram ali, juntos, contemplando a noite. Ele sentia o seu corpo magnetizado, elétrico, sensível, desmoronando no abismo de desejo que queria devorá-lo naquele quarto anônimo. Aquele reino, fundado ao acaso. Não era sonho; ela estava ali, abraçando o seu corpo, a cabeça depositada nas suas costas. E se era sonho, que ele não acordasse nunca mais.
Você será minha, pela eternidade das horas breves.
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