Eu sonhei que você enfim estava lá. E você me pedia para ficar, naqueles minutos que se tornavam horas, diante dos nossos olhos afoitos.
Eu então comecei a desaparecer, no meu medo insustentável de que nada daquilo não fosse real - e que você também iria desaparecer diante dos meus olhos tomados - contaminados - pela aterrorizante luz da manhã. Eu levantaria para a minha repetida e solitária xícara de café e você teria sumido para sempre. E nada daquilo seria de verdade.
Não.
O pêlo que cobria o seu corpo nu, iluminado por aquela janela estrangeira, sobre aqueles lençóis de idade questionável, era absolutamente real. O cheiro, o sabor. O seu cabelo comprido cor de ouro queimado, cascateando sobre a pele salpicada de sardas, minhas novas constelações. Os olhos da cor de esmeraldas selvagens, a voz rouca feito feitiço, o seu nome que eu gostava de pronunciar em silêncio, como uma oração, deixando as letras envolverem a minha língua num abraço etéreo.
Fumaça e vinho. Aquela cidade velha, emoldurada pela nossa fome.
Toda a fome. Ainda sem nome.
Era tudo real, afinal.
Você me fez ficar, meu amor de espera.
Vamos embora, você pareceu sussurrar naquela manhã de pensamentos sóbrios.
Para onde?
De que importa?
Navegar, desaparecer. Juntos. Você e eu.
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