sábado, 7 de setembro de 2013

OS LADRÕES VESTEM PRADA

Chanel, Loubutin, adrenalina, tédio, cocaína. Não vou dizer que "The Bling Ring" é o melhor filme de Sofia Coppola. Não é; longe disso, em verdade. Aliás, não fossem algumas cenas emblemáticas (a típica cena de janela de carro), ou a trilha sonora excelente, talvez eu nem pudesse identificar. Quero dizer com isso que o filme é ruim? Longe, longe disso também.

Sofia está em casa aqui, quase literalmente. Tendo o universo da moda e do consumo como pano de fundo e unindo o realismo de "Somewhere" à extravagância de "Marie Antoinette", "The Bling Ring" (baseado em fatos reais) é uma mistura de drama e documentário sobre uma história real do passado recente dos Estados Unidos: um grupo de adolescentes ricos e entediados que decidem roubar as casas de celebridades. 

A trama é simples. Amigos de escola se unem e, ao compartilharem o tédio e a falta de perspectiva em suas vidas marcadas pela futilidade, cocaína e fotos postadas em redes sociais, decidem provar que são invencíveis ao invadir as mansões de celebridades como Paris Hilton e Lindsay Lohan. No caminho, inúmeras conquistas recheadas de sapatos, bolsas, jóias e relógios de marca. O que poderia dar errado?

O filme é narrado em flashback, com a gangue relatando a cadeia de eventos que os leveram à criminalidade. Todos inocentes, todos iludidos, todos trazidos ao crime por "más companhias". Mas não entendam errado. Sofia Coppola não pretende, em hipótese alguma, fazer um filme sobre moralidades aqui. Bem ao contrário. Por um lado, ela se delicia ao expôr uma orgia consumista permeada por uma trilha sonora animada quase inteiramente por hip-hop. Por outro, pretende escancarar o vazio da cultura atual nos Estados Unidos onde só há vida onde há notoriedade. 

Eles são jovens, bonitos e ricos. E decidem brincar com fogo, descobrido mais cedo ou mais tarde que o crime pode ser delicioso, mas nunca compensa

As meninas querem as bolsas, os vestidos e os sapatos caríssimos? Sim, claro, óbvio que querem. Mas não é apenas o objeto de desejo. É a adrenalina, a exposição, a celebridade dentro da celebridade, definida por uma frase genial quando uma das criminosas é interrogada: "O que Lindsay disse sobre mim?", ela pergunta ao policial quando este indaga sobre as invasões. É uma crítica velada, escondida sobre as cores e o brilho das marcas e do luxo, uma autópsia chique do estado atual de coisas. 

"The Bling Ring" é, possivelmente, o menor filme de Sofia Coppola. O menos poético, o menos marcante. Mas não menos importante. Ela está aqui, inegavelmente, em cada frame, cada plano, cada câmera lenta, cada reflexão juvenil, de quem não faz ideia do que fazer com a própria vida.

Como se Maria Antonieta estivesse num lugar qualquer, suicida, e simplesmente, perdida na tradução.

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