quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

É POR ISSO QUE CORRO

Eu gosto de correr. Não pela prática esportiva em si, ou por estética ou mesmo pelas consequências para a minha saúde, sempre tão alardeadas pelo noticiário. Como a Fernanda Young, eu gosto de correr porque sou triste, ou simplesmente porque gosto de pizza. Ou ambos, sei lá. Há algo transcendental, quase mágico, naquele momento fugaz em que os meus pés tocam o chão e a minha mente parece fugir para outro lugar. A música alta nos ouvidos martelando o compasso de uma cadeia completamente desconexa de memórias, planos, ideias. E quando menos percebo, às vezes vejo que os meus olhos estão pesando com um punhado de lágrimas sinceras que escorrem pelo meu rosto, sem pudor. Disfarçadas pelo suor, elas se perdem no meu corpo, vagueiam pelas bochechas, pescoço, misturando-se à roupa, e evitando também que eu seja julgado por elas. Então eu as deixo caírem, soltas, livres, libertas. E não são lágrimas de tristeza, melancolia, absolutamente. Tampouco de alegria genuína. Há algo de saudade ali, de falta, de lembrança. De vontade. Algo de limpeza, como se fosse a transpiração da minha alma. São lágrimas catárticas, que me desprendem do plano material e, não fosse o movimento da rua ou a possibilidade de perder o equilíbrio, deixaria os olhos fechados o tempo todo. Por isso eu corro e dou também um descanso ao espírito que encontra, naquele momento quase metafísico, a sua própria chance de respirar.

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