quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

AMOR DE ESPERA


"Tenho um amor de espera,
cheio de sobressaltos incomuns
(condizentes com o motivo da espera)
Um amor que roda a bem-amada,
afaga mesmo quando não sente
ou julga ser só o vento
a arrepiar seus pêlos.
Tenho um amor de espera,
que ronda a minha vida trazendo a poesia
para os momentos de espera...
E mesmo na espera desfrutamos desse amor".

* * *
Os dois se olhavam por um tempo infinito que parecia durar horas - ainda que não tenham passado alguns minutos. Mãos acariciando os rostos, acompanhadas de olhos fechados, de mechas de cabelo retiradas de cima das bochechas. Risos e lágrimas, abraços e um desejo mudo, que eles não conseguiam verbalizar.

Tinham medo.
Tinham medo de serem ousados.
A cidade brilhava naquela janela anônima, a poucos metros de onde eles haviam fundado aquela ilha, aquele pequeno país, aquele reino sem donos, feito de lençois desfeitos e roupas espalhadas pelo chão. Aquele reino de beijos sem fim, de suor e saliva, de corpos se entregando exaustivamente a uma dança de suspiros e promessas que nunca se cumprem.

Aquela saudade absurda.
Ela havia pulado para cima do seu corpo, como uma gata, surpreendendo-o no meio da madrugada. Envolveram-se num emaranhado de mãos, de pernas, de olhos e bocas. Exploraram-se, conheceram-se, apresentaram-se.
Com cortesia, com devoção. Com amor.
Como dois dançarinos.
"Você lembrará de mim?", ela perguntava, de forma doce, aquela voz sussurrada, coisa de sonho. Como se ele pudesse esquecer. "Você lembrará de mim?", ela insistia. Como se ele a tirasse dos pensamentos em algum momento.

"Sim, eu lembrarei de você".
Aninhados, ele e ela. Agarrados sob o calor das cobertas. Olhando-se naquele tempo infinito, enquanto os carros e as pessoas entoavam canções urbanas não longe de onde estavam. Aquelas luzes, aqueles sons, aquela solidão.

"Sim, eu lembrarei de você".
E então chegou a hora de se despedirem. Ela, nua, olhando-o do canto da porta. Aquele sorriso triste, aquelas pontas de dedos que não queriam se desmagnetizar. Olhos brilhantes, lábios úmidos, últimos beijos.
Aquela saudade absurda.
E então uma rua. Um taxi. Um olhar sonolento à paisagem que passava à janela.
Ou seria apenas tristeza?
E então um avião para levá-lo para longe. Uma mão sobre o peito, uma dor, uma falta. Um envelope, uma folha pequenina, um punhado de palavras. Aquela caligrafia, aquele cheiro.
O cheiro dela.

Então um olhar perdido sobre as nuvens, cegos pelas primeiras luzes que se desenhavam no horizonte. Um suspiro. Um sorriso.
Aquele amor de espera.

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