domingo, 1 de abril de 2012

O ASTRONAUTA

Havia anos ele navegava o infinito oceano especial. Navegava, negava. Um pouco dos dois. Aquela solidão, aquele silêncio ensurdecedor. O sol despontando no horizonte árido, sério, cegando-o deliciosamente por alguns instantes. O nada preenchendo cada canto, cada direção em que ele olhasse. Aquele vazio absoluto em que ele flutuava num balé caótico, sem começo nem fim. Sem coreografia.

Apertava seus braços em torno do peito, com frio. Falso beduíno.
Abraçava-se.

Até pousar, novamente, no planeta que orbitava incansavelmente.
Aquela gravidade que o aprisionava.
Aquele pássaro sem rumo.

Às vezes ele não entendia mais o que fazia ali, após tanto tempo. Não sabia mais quem ele era, qual era o seu propósito. Sua missão. Ele sentia uma saudade. De quê exatamente? Não sabia explicar. Havia algo, mais forte que ele, que o impedia de partir. 

E ele ficava então submetido, seduzido, pela gravidade. Derrotado pela atmosfera. Aquele planeta em que habitava sozinho. O último homem. Seu dono, seu senhor absoluto. O único homem naquele horizonte solitário que ele contemplava todos os dias. Norte e Sul. Leste e Oeste. 

"Eu sou senhor deste silêncio", pensava. Mas tudo que ele mais desejava era vencer a gravidade, romper a atmosfera, voltar para casa. Mas ele não lembrava mais onde ficava a sua casa. Ele não sabia como partir. Ele não conseguia partir. Nem para que casa voltar.

Então ele simplesmente permanecia. Caminhava pelos cânions vermelhos, que o escondiam sob uma penumbra misteriosa, contemplando o céu ao seu redor; brincando de gritar, feito criança.

Mas ninguém o ouvia. "Olá!", ele exclamava a plenos pulmões. "Olá!". Sempre sem retorno. Era o seu artifício para não esquecer da sua voz, como já começava a esquecer do seu rosto. "E se eu esquecer de mim mesmo?", aterrorizava-se, "desaparecerei?". E, no vai e vem do vento, que cobria o seu corpo com aquela mistura de areia e poeira estelar, ele temia, mais que tudo no mundo, enlouquecer.

"Olá!", ele gritava. "Olá!".

Até que, para sua avassaladora surpresa, ele sentiu um toque delicado nos seus ombros. Algo familiar.

Acordou com um susto, o coração disparado, a garganta seca.

Olhou ao redor. Ele ainda estava lá. Queria voltar a sonhar.

2 comentários:

Sol T disse...

Tem a ver?
:

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=rEXhAMtbaec

Orbitalc3 disse...

Olá!!!