"A Dama de Ferro" (The Iron Lady), filme de Phyllida Lloyd, é supreendente. Confesso que não tinha grandes expectativas e, ainda por cima, havia criado antipatia pelo fato de Meryl Streep ter levado o Oscar de melhor atriz este ano. Em poucos minutos, todos esses preconceitos foram ao chão. O filme é um lindo retrato de uma das mulheres mais importantes da história recente; um relato humano, honesto, que equilibra o poder e a absoluta fragilidade da Dama de Ferro, Margaret Thatcher, ex-primeira-ministra do Reino Unido. Sempre tive grande admiração por mulheres importantes, grandes líderes que conseguiram sobreviver ao universo de poder masculino e Thatcher sem dúvidas é uma destas mulheres. E a interpretação de Meryl Streep, na falta de um adjetivo melhor, é sublime e chegam a assustar as múltiplas caracterizações da atriz para viver a política em diferentes épocas, desde o começo de sua carreira.
Meryl Streep demonstra, com muita facilidade, porque é a grande dama do cinema
O filme é contado a partir da velhice de Thatcher. A Dama de Ferro é agora uma velhinha de saúde frágil, senil, vivendo sob cuidados intensos em seu apartamento em Londres. Ela sofre alucinações constantes, em que ainda conversa com seu falecido marido e, em muitos momentos, perde a noção da realidade achando-se ainda à frente das decisões políticas da Grã-Bretanha. Caminhando em sua casa, aquele silêncio, aquela solidão, ela vai encontrando objetos que remontam ao passado de poder: a invasão das Malvinas, as crises políticas, o enfraquecimento da economia, greves, protestos e as difíceis decisões que colocaram o país nos eixos: uma vida dedicada ao serviço público. "Não me agradam os sentimentos. É das ideias que gosto", diz ela ao seu médico em um momento.
A maquiagem é um absurdo e ajuda Streep na caracterização inacrediável de Thatcher
Com muita delicadeza, respeito e admiração, o filme apresenta o contraponto entre uma mulher que sempre transpirou autoridade e uma mulher, no ocaso de sua vida, lidando com os problemas reais da velhice. A jovem obstinada e que não se deixava intimidar, a mãe ausente, a esposa autoritária, a Dama de Ferro dos ingleses, senhora das decisões impossíveis. Neste aspecto, brilham a direção elegante, a maquiagem fenomenal e a atuação comovente de Meryl Streep que consegue comunicar, com olhares, trejeitos, gestos o cansaço de uma mulher que parece ter carregado o peso do mundo sobre os ombros. "O pensamento vira uma palavra. A palavra vira uma ação. A ação se torna hábito. O hábito faz o caráter. O caráter forma um destino". Assim Thatcher conduziu sua vida, suas escolhas, sua história. Decisões que são criticadas no presente mas que são celebradas por gerações no futuro. Lindo, lindo filme.
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