O compasso preciso dos ponteiros em seu pulso. 22, 21, 20. Pensou em um punhado de amigos, sua mãe, sua gata. Um amor de infância, um beijo sob a chuva, seu filme preferido, o livro que deixaria pela metade. Olhou suas mãos, frente e verso; pés com cadarços desamarrados. Contemplou-se como podia, pela última vez. Sentiu tanta saudade de tudo. Uma saudade que o engolia. 17, 16, 15. Pessoas ao seu redor faziam suas próprias despedidas. Fotografias mentais, bonecos de ação, jogos infantis, jogos de adultos. Algumas canções que até naquele momento arrepiavam os pelos em seus braços. O coração disparado por aquele caleidoscópio forçado de lembranças. Uma rajada de eletricidade em suas veias. Coisa demais em tão pouco tempo. Tanta vida. O céu já estava tomado por um tom diferente, meio melancólico, meio magenta. 8, 7, 6. Sabores que ficariam para trás, para sempre. Cheiros, texturas. Gostava de lençóis de algodão e de vinho tinto. De vento nas cortinas e água escorrendo no corpo. Cheiro de mar, abraços apertados. Fechou os olhos, úmidos, em prece. 3, 2, 1.
E então o silêncio.
E então o silêncio.
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