Quando era criança, ele sempre pedia a sua mãe que o fizesse animais de papel-cartão, ao que ela, tão habilidosa, atendia prontamente. Girafas, gaivotas e elefantes. Animais de papel, dobrados com mãos quase japonesas.
Mas ele reclamava, com convicção, porque ainda que os animais surgissem com perfeição, nasciam sempre manchados e nunca ficavam branco-algodão, como ele exigia. Ao que sua mãe respondia, tão carinhosa, "que talvez eles estivessem brincando na lama".
* * *
Quando se despediu de sua mãe, pela última vez, lembrou de seus animais de papel. Um pensamento inesperado, que o atravessou por completo, como um relâmpago. E soluçou baixinho, não somente pela ausência mas porque compreendeu, apenas então, "que ela cortava os dedos ao fazê-los".
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