terça-feira, 21 de setembro de 2010

LADRÕES, BICICLETAS E A CRUA BELEZA DA VIDA

"Ladrões de Bicicleta", filme de Vittorio De Sica (do neo-realismo italiano dos anos 40), é uma experiência arrebatadora e obrigatória para qualquer pessoa que goste de cinema. Não vou entrar na questão "científica" da coisa, pelo contrário, prefiro muito mais as reflexões subjetivas, de alma. A história, breve e quase banal (me lembra sempre o iraniano "Filhos do Paraíso", só que com outra abordagem sobre a esperança) narra a história de uma família italiana após o fim da II Guerra Mundial. Como todos os italianos, eles vivem uma vida dura e cheia de necessidades. O pai, Ricci, está desempregado, mas acaba de conseguir uma oportunidade de trabalho. A questão é que esta ocupação exige uma bicicleta e ele acabou de penhorar a que tinha e não tem dinheiro para comprar outra. Sua mulher, Maria, para reverter a situação, penhora os lençois de linho e recupera a bicicleta do marido. E assim ele começa a trabalhar pelas ruas, pregando cartazes de cinema. Mas eis que a sua valiosa bicicleta é roubada, dando início a uma jornada melancólica e desesperada, em que Ricci e seu filho pequeno, Bruno, correm as ruas buscando não apenas um objeto, um instrumento mundano de trabalho, mas uma rara e quase impossível fonte de esperança. Não vou me prender a detalhes e desdobramentos. Este é um daqueles filmes raros e obrigatórios em todos os sentidos. É um filme lindo, comovente, de uma fotografia tocante e costura perfeita de acontecimentos. Um filme que consegue "anoitecer" ao longo das cenas, abandonando a esperança iluminada e abraçando, gradualmente, a tristeza mais pessimista da realidade. Afinal, se a arte imita a vida, os finais felizes não são uma mercadoria tão comum. Uma preciosidade, um exemplo de onde o cinema - como arte - pode chegar na sua missão essencial de mexer com a mente, as emoções e a alma humana. Lindo, lindo demais.

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