sexta-feira, 24 de setembro de 2010

ENVERGONHADA (FALTA DE) POLÊMICA

Confesso que fiquei intrigado quando soube do roteiro de "Do Começo ao Fim", filme de Aluizio Abranches, sobre o relacionamento incestuoso (e homossexual) de dois irmãos. Tomás e Francisco, filhos de uma mesma mãe e pais diferentes, descobrem-se cúmplices e íntimos desde a infância. Os dois são próximos, "próximos até demais" e, apesar de certo estranhamento, acabam se envolvendo amorosamente. 

Pelo trailer promocional, o filme prometia polêmica sem pudor, discussão de tabus e enfrentamento de uma inevitável carga de preconceito. Afinal, não seria apenas uma história sobre o relacionamento sexual entre dois homens, mas, principalmente, entre dois irmãos. E confesso que, após assistir aos 90 minutos de filme, todas as minhas expectativas foram frustradas. A história que prometia uma guerra, rapidamente se acovarda e parece, gradualmente, desistir da sua própria discussão. Tudo é tratado com superficialidade e naturalidade de tal maneira que qualquer possibilidade de conflitos interessantes é sufocada antes mesmo de ganhar corpo. Desde o princípio vamos compreendendo que não há muito o que esperar. 

Tentei decifrar o mistério. Afinal, é um filme nacional, corajoso, bem produzido, com boa fotografia, trilha sonora adequada, com um elenco que - apesar de não brilhar - faz o que tem que ser feito (mérito para Julia Lemmertz, que se destaca sem dificuldade). O que pode ter dado errado? Acho que há, em verdade, um grande problema de roteiro. Aluizio Abranches não soube ao certo que desfecho dar aos seus personagens e, ao invés de lançá-los numa sofrida luta individual, repleta de questionamentos e preconceitos, escolheu o pior caminho possível: absolutamente nenhum. Os heróis, aqui, que poderiam matar e morrer por uma história de amor impossível parecem condenados, na verdade, a morrer de tédio.

Para mim, uma história como essa - do ponto de vista cinematográfico - só poderia ter dois finais: um bem piegas, mas competente em comover ao encerrar a história de duas almas verdadeiramente gêmeas ou um trágico (possivelmente mais interessante) no qual, como numa peça grega, nada pode terminar bem sem pelo menos algumas doses de sangue. E aí é que está a maior deficiência deste filme tão cheio de potencial: ele é tímido, envergonhado de si mesmo, reprimido e, inevitavelmente, enfadonho. O que, dada a temática, é ainda por cima uma ironia! 

Imaginei que "Do Começo ao Fim" poderia ter traços e influências do poderoso e comovente "O Segredo de Brokeback Mountain", esse sim um filme que não teve nenhum medo em mostrar suas cores.  Mas acho difícil alguém discordar que este filme, apesar de "bem intencionado", é fraco e inexpressivo. Do começo ao fim.

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