sábado, 5 de dezembro de 2015

LIBERDADE OU A MORTE


Era uma manhã de sol, "um belo dia para se morrer", o general disse, orgulhoso, do alto da sua montaria, passando a tropa em revista.

Mas ninguém poderia imaginar, de fato, que aquela manhã de sábado mudaria tudo; completamente, para sempre; que seria o divisor de águas, a pedra definitiva, a batalha final, derradeira, onde sangue seria derrubado em nome da tão sonhada liberdade.

Ra ta ta, ra ta ta ta, ra ta ta, ra ta ta ta...

A marcha seguia, ao som quase industrial dos tocadores de tambor. Cavalos orgulhosos, flâmulas de cores, tamanhos e formas variadas, homens e mais homens, segurando seus rifles, sabres e baionetas, os canhões sendo empurrados a passo lento para o topo das colinas. Toques de corneta, gritos de formação, e uma tensão no ar tão densa, tão pesada, que poderia bem ser cortada com uma faca. 

Então o silêncio.

Aquele vazio, aquele espaço que antecede o trovão, a espera antes do choque. Vento, poeira, zumbido de inseto nos ouvidos, o sol quente cozinhando o corpo sob o uniforme puído. De repente, um avanço inesperado. O inimigo marchando, ilógico, sem planejamento, sem um agrupamento reconhecível de unidades, morro abaixo, gritos selvagens. Havia chegado a hora.

"É aqui, é nesta hora inesperada que tudo vai mudar", o general pensou com seus botões.

Os homens o olhavam, quietos. Jovens, velhos, alguns mancos, outros cegos, tão exaustos todos. Famintos, doentes, feridos. Lutando há tanto, tanto tempo.

"Morreremos de pé, mas não viveremos mais de joelhos!", exclamou com a espada apontada para o céu azul, quase sem nuvens, sobre a grande planície desolada. Deu ordem de carga à cavalaria, e todos correram morro acima para um choque brutal de ossos, carne e metal. 

Boom! Gritou a artilharia. Boom! Boom! Boom! Pedaços de tudo voando pelos ares.

Boom! Boom! Boom!

Homens em pedaços, espíritos destruídos, sangue misturado à lama. Horas que se arrastavam como dias, um desejo sufocante de liberdade, um grito contido na garganta por tempo demais.

"De vocês eu espero apenas a imprudência!", o general gritava, coberto de sujeira, como um animal. Era uma batalha do tudo ou nada. Não poderia haver volta, não poderia haver rendição. Era uma luta pela liberdade.

Ou então a morte.

Os homens que ainda restavam de pé correram para uma última marcha, escondidos sob a fumaça da pólvora que queimava o ar. Uma névoa onde todos lutavam cegamente, entregando o corpo à fúria.

Então novamente o silêncio, repentino, quase estrangeiro. Cães caminhando entre os mortos, restos de homens rastejando pela lama, soldados se esfaqueando em desespero, debatendo-se no chão, ginetes solitários caminhando entre os corpos sem vida, separando príncipes de mercenários; contabilizando o que havia ficado de pé, o que havia restado, o que havia se perdido para sempre.

E lá estava ele no chão, o general, de olhos abertos, olhos de vidro, virados para o céu. O corpo sem vida ainda empunhando o sabre imundo, de onde escorria sangue, entranhas e sujeira. Havia sido um bom dia para morrer, ele havia profetizado. E entregara a sua vida, naquela manhã de glória, em nome da liberdade. Algo perdido, algo ganho. Como é na guerra.

"O dia é nosso", teria dito antes de dar seu último suspiro, "o dia é nosso".

* * *

"Tentaram me enterrar, mal sabiam que eu era uma semente", diz um provérbio mexicano.

Eis que essa é a história, sobre sangue e fúria, 
de quando meu jovem país finalmente ficou livre da tirania.

Nenhum comentário: