segunda-feira, 17 de novembro de 2014

OLHOS ABERTOS, SILÊNCIO ELOQUENTE


Às vezes eu esbarro acidentalmente num filme e encontro um tesouro; sinto uma felicidade genuína, libertadora, quando isso acontece. E foi o que me aconteceu ao ver o filme "Eyes Wide Open" (Einayim Petukhoth - 'Pecado da Carne' no Brasil), filme israelense de 2010. 

A sinopse pode soar estranha e até afastar uma audiência menos aventureira, mas, acredite, este é um filme imperdível. A história narra o encontro de Aaron (Zohar Shtrauss) e Ezri (Ran Danker). Aaron é um judeu ortodoxo, açougueiro em Jerusalém, casado e pai de quatro filhos. Uma vida simples, dedicada, religiosa e comum não fosse um pequeno incidente. Aaron se apaixona por Ezri, um rapaz de 22 anos que aparece no açougue em busca de um emprego e um lugar para morar temporariamente. Tudo isso no seio de um bairro ortodoxo, tradicional e que considera todo e qualquer 'desvio' como um crime.

Não pretendo estragar as surpresas que se desenrolam; não seria justo. Posso apenas dizer que tudo é conduzido com muita delicadeza, sutileza e sensibilidade, numa construção de dois personagens que são tão reais como há muito tempo eu não via. Em muitos momentos eu custava a crer que era ficção e não documentário.

"Por que razão você não o manda embora?", o rabino questiona Aaron, em determinado momento.

"Eu estava morto", Aaron responde, pura e simplesmente. "E agora eu estou vivo".

Lindo filme, singular. E que me deixou de olhos abertos e boca cheia de silêncios eloquentes.


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