segunda-feira, 29 de outubro de 2012
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
O VERÃO DE 89
Quando eu, meus irmãos, primos e os outros meninos da rua nos encontramos, ainda hoje, é impossível não lembrar do verão de 89. Aquela lembrança sofrida, que parece beliscar algum canto da alma, quando nos esbarramos nos supermercados.
Não pelos bonecos ou desenhos animados; pelas músicas, roupas questionáveis ou pelas brincadeiras. Pelos filmes de aventura no cinema ou os lanches da tarde. Nem pelos banhos de piscina, as partidas de futebol ou os primeiros beijos que roubávamos das meninas naquelas brincadeiras de um tempo inocente que parecia durar para sempre. Um tempo que nunca passaria.
Não pelos bonecos ou desenhos animados; pelas músicas, roupas questionáveis ou pelas brincadeiras. Pelos filmes de aventura no cinema ou os lanches da tarde. Nem pelos banhos de piscina, as partidas de futebol ou os primeiros beijos que roubávamos das meninas naquelas brincadeiras de um tempo inocente que parecia durar para sempre. Um tempo que nunca passaria.
Não. É de Sabrina que lembramos. Aquela menina linda, aquela menina sem mãe, aquela menina flutuante, silenciosa, frágil, de olhos abissais e voz de feitiço. Sabrina, com seu cheiro de limão e canela. Sabrina, por quem cada um de nós foi perdidamente apaixonado.
De todas as meninas, Sabrina era a única que brincava com a gente. A única que não se importava de estar cercada por meninos. Ela era nossa, no sentido mais lindo e puro da palavra. Nossa amiga, nossa estrela da sorte. Sabrina, que queria ser astronauta ou rainha de um reino distante. Sabrina, que até hoje habita os meus sonhos.
Ela vivia com o seu pai. Sua mãe os havia abandonado quando Sabrina nasceu. Sem irmãos, sem avós, sem qualquer sombra de família que não aquele homem que odiávamos com toda a energia que habitava os nossos corpos imberbes. Aquele homem de olhos vermelhos e odor forte. Aquele cheiro de cigarro e bebida. Aquela barba azulada, como a de um pirata. Aquela voz rouca, baixa, assustadora que ainda consigo ouvir. Aquele homem cuja presença na janela era o suficiente para que Sabrina nos deixasse e voltasse para casa. Ela desaparecia à sombra do seu pai. Nosso inimigo mortal, jurado.
Naturalmente, não tínhamos capacidade de entender a dimensão do que acontecia com Sabrina. Hoje em dia, após a maturidade nos ter versado na capacidade humana para o bem e para o mal, sabemos que Sabrina foi, em verdade, uma prisioneira. E me corta a alma, ainda hoje, pensar se poderíamos ter feito algo. Se aquele verão poderia ter sido diferente.
Se poderíamos ter salvado Sabrina.
Se poderíamos ter salvado Sabrina.
Ela vinha brincar com a gente e fazíamos um esforço para ignorar as marcas no seu corpo, os arranhões. Sabrina tropeçava demais, assim nos explicava, com aquele seu sorriso tímido que nos desarmava.
"Foi o vento que me derrubou no chão e quebrou o meu braço", ela nos dizia.
"Não, eu sei que não foi o vento", eu ainda digo para mim quando vejo meu reflexo grisalho no espelho. Quase todos os dias, como uma oração. "Por Deus, eu sei que não foi o vento".
Ela sorria, puxava-nos pelo braço, e ganhava a dianteira. Escalávamos então as copas das árvores e conquistávamos arranhões genuínos que, misturados aos de Sabrina, camuflavam a atmosfera ao nosso redor. Éramos todos nós meninos arranhados, machucados. Durante aqueles dias eternos das nossas sonhadas férias escolares.
Um dia, Sabrina não veio brincar com a gente na rua. Esperamos por ela na esquina, por horas, sem sucesso. Mas ela não veio. Dias depois soubemos que Sabrina havia deixado de existir, havia escolhido ir embora, para um lugar onde jamais poderíamos encontrá-la. Sabrina havia partido para o mundo dos sonhos, minha mãe me explicara com olhos derretendo de lágrimas. Aquela tragédia. Aquele verão de 89.
Nós, porém, escolhemos acreditar que Sabrina havia ido povoar um outro planeta. Ou governar uma terra distante. Sabrina, e seus olhos cor de água, cabelos ondulados e vestidos surrados. Quando fecho os olhos ainda consigo ver as dobras no canto de sua boca, quando ela nos presenteava com um de seus sorrisos acanhados.
A verdade é que ela se foi, sim, e nos levou com ela. De alguma forma nos levou com ela. Para sempre.
A verdade é que ela se foi, sim, e nos levou com ela. De alguma forma nos levou com ela. Para sempre.
Porque a vida nunca mais foi a mesma depois do verão de 89.
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
terça-feira, 23 de outubro de 2012
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
PARA VER E OUVIR: PAVAROTTI CANTA "VESTI LA GIUBBA", DE "PAGLIACI" (LEONCAVALLO)
Me acabo de chorar. Sempre.
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sexta-feira, 19 de outubro de 2012
SILÊNCIO
Silêncio!...
Florbela Espanca
No fadário que é meu, neste penar,
Noite alta, noite escura, noite morta,
Sou o vento que geme e quer entrar,
Sou o vento que vai bater-te à porta...
Vivo longe de ti, mas que me importa?
Se eu já não vivo em mim! Ando a vaguear
Em roda à tua casa, a procurar
Beber-te a voz, apaixonada, absorta!
Estou junto de ti, e não me vês...
Quantas vezes no livro que tu lês
Meu olhar se pousou e se perdeu!
Trago-te como um filho nos meus braços!
E na tua casa... Escuta!... Uns leves passos...
Silêncio, meu Amor!... Abre! Sou eu!...
Florbela Espanca
No fadário que é meu, neste penar,
Noite alta, noite escura, noite morta,
Sou o vento que geme e quer entrar,
Sou o vento que vai bater-te à porta...
Vivo longe de ti, mas que me importa?
Se eu já não vivo em mim! Ando a vaguear
Em roda à tua casa, a procurar
Beber-te a voz, apaixonada, absorta!
Estou junto de ti, e não me vês...
Quantas vezes no livro que tu lês
Meu olhar se pousou e se perdeu!
Trago-te como um filho nos meus braços!
E na tua casa... Escuta!... Uns leves passos...
Silêncio, meu Amor!... Abre! Sou eu!...
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
O GATO DO SIMON
Mais uma série de vídeos adoráveis do gatinho improvável (e absolutamente possível) do Simon.
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
terça-feira, 16 de outubro de 2012
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
O QUE VOCÊ FARIA?
Em alguns dias, um meteoro colidirá com a Terra, acabando com a vida no planeta. As empresas já não se preocupam mais com metas nem carreiras nem funcionários. Animais são abandonados à sorte, assassinos postam ofertas de trabalho, a polícia não se ocupa mais dos criminosos, os correios deixaram de entregar cartas, os canais de TV não exibem mais sua programação, os aeroportos foram oficialmente fechados e as pessoas erram pelas ruas, em busca de atividades finais.
Sem saber o que fazer, alguns fogem, outros se trancam em casas e abrigos, outros tantos aderem gangues de saqueadores, outros decidem beber, comer e festejar até o fim. Nunca o planeta esteve tão abandonado e sem rumo. Esta é a temática do [lindo e profundamente tocante] "Procura-se um amigo para o fim do mundo" ("Seeking a friend for the end of the world"), dirigido por Lorene Scafaria.
Neste contexto, Dodge (Steve Carell - maravilhoso, como sempre) é um homem infeliz, que acabou de ser abandonado pela esposa e que passa os seus dias meditativo e melancólico, sem saber o que fazer com os seus últimos instantes na terra. Ele conhece Penny (Keira Knightley em seu melhor papel até hoje), uma adorável inglesa, que passou sua vida inteira fazendo as piores escolhas.
Penny e Dodge têm uma última coisa a fazerem juntos, antes do fim do mundo. Redenção
Nasce uma amizade e um pacto entre esses dois sobreviventes. Dodge quer encontrar o amor da sua vida, uma mulher por quem ele foi apaixonado à época da escola. Penny deseja desesperadamente achar alguém que possa levá-la até o outro lado do Atlântico, para que ela possa ver os seus pais pela última vez. Os dois decidem se ajudar e ganham a estrada, formada por surpresas, perigos, encontros insólitos e, inevitavelmente, redenção.
Este é um filme delicado, feminino (não à toa é dirigido por uma mulher), e que utiliza uma poderosa(síssima) metáfora para discutir, afinal, "o que estamos fazendo das nossas vidas?". O que ainda pode ser feito? O que ainda pode ser corrigido, vivido, perdoado, antes do "final".
Dodge e Penny descobrem isso, juntos, e são generosos o suficiente para deixarmos acompanhá-los até o fim. Eis aqui um filme lindo, que não pode ser ignorado. Um filme que fica, que marca, que silencia. Um filme para nos ajudar a buscar "algo", antes que tudo se acabe. Seja um amigo, um amor, uma ideia, um desfecho, um recomeço. Um filme sobre a ideia que nunca é tarde demais para nada, e que está nas nossas mãos a decisão sobre o que é realmente importante em nossas vidas.
O fim do mundo nunca teve tanto sabor de começo.
domingo, 14 de outubro de 2012
DE VOLTA A RACCOON CITY
Digam o que quiserem. Polêmicas, críticas e decepções à parte - para mim - Racoon City nunca foi tão divertida (e intensa). Palmas - de pé - ao "6".
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quinta-feira, 11 de outubro de 2012
terça-feira, 9 de outubro de 2012
SONHO DE VINHO E ÁCIDO
A fotógrafa americana, Alison Scarpulla, possui uma técnica diferente para revelar as suas fotografias. Ela utiliza vinho e ácido, de forma completamente aleatória, e os resultados são mágicos e surpreendentes. Coisa de sonho. E de pesadelo.
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CAPRICHO
Não preciso, naturalmente, já que tenho os 5 livros da "Canção de Gelo e Fogo" lançados até hoje. Mas isso não impede a minha alma nerd de desejar muito essa coleção de luxo da saga de "A Guerra dos Tronos". Em pré-venda na Saraiva.
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domingo, 7 de outubro de 2012
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
MEIO-DIA
Os pés dela tapavam o sol, empoleirados no painel do carro, equilibrados de forma precária, como duas brancas torres majestosas prestes a ruir. Aqueles lindos pés, aqueles pés pequeninos, aqueles pés tão beijáveis, que ela teimava em esconder. "Estes meus pés aduncos", ela dizia, dada sempre a falar bonito. Ele sorria.
"Eu gostaria de ir a um lugar, destes que se vai antes de morrer", ela disse. "Um destes lugares para se riscar de uma lista".
O carro seguia num compasso quase hipnótico. A velocidade estacionada entre 80 e 83 quilômetros por hora. O vento ninando algo antigo nos ouvidos, revirando cabelos, a estrada infinita no horizonte, aquela serpente de concreto sem fim.
A música sendo deliciosamente ignorada, enquanto bocas faziam mímicas incompetentes das letras nos alto-falantes. Pensando em nada, pensando em tudo. Olhos semi-cerrados. Querendo adormecer. Mãos entrelaçadas de forma preguiçosa. Seguindo.
"Vamos brincar que este é o fim do mundo", ela provocava. "Vamos viver este dia como o último".
Sorriam. Linhas douradas do sol desenhavam uma tapeçaria de tons acobreados no horizonte. Árvores espalhadas ao longo da estrada, uma cerca de sonhos. O céu num esplendor azulado, quase lilás, sem nuvens, sem chance de chuva, algo de céu tuareg.
Pensamentos desconexos, reflexões sem fundamento. "O que estamos fazendo das nossas vidas?". Talvez o plano, afinal, fosse não ter plano algum.
Estacionaram o carro num mirante de frente para o mar. Pontiagudo, como a proa de um barco, ansioso em ganhar as águas. Aquela extensão absurda, impensável, de beleza e terror. Aquela água sem fim, revolta, aquele barulho tamborilando no ouvido, aquele som de sal e espuma.
Deram-se as mãos. Olhando juntos, em silêncio, o sol emoldurando aquela imensidão, como um rei coroado. Ao redor deles, absolutamente nada. Apenas o vento, apenas o silêncio. Estava ali uma visão para se ter antes de morrer. Uma visão para um dia de fim de mundo. Como ela havia pedido.
Duas horas e trinta e oito minutos haviam se passado. O mais longo intervalo de trabalho da história.
Sorriram. Olharam-se. Aquelas roupas desfeitas, aqueles sapatos sem par. Um conjunto de pernas, braços, abraços e bocas. E suspiros. E vontade de parar o tempo.
"Eu gostaria de ir a um lugar, destes que se vai antes de morrer", ela disse. "Um destes lugares para se riscar de uma lista".
O carro seguia num compasso quase hipnótico. A velocidade estacionada entre 80 e 83 quilômetros por hora. O vento ninando algo antigo nos ouvidos, revirando cabelos, a estrada infinita no horizonte, aquela serpente de concreto sem fim.
A música sendo deliciosamente ignorada, enquanto bocas faziam mímicas incompetentes das letras nos alto-falantes. Pensando em nada, pensando em tudo. Olhos semi-cerrados. Querendo adormecer. Mãos entrelaçadas de forma preguiçosa. Seguindo.
"Vamos brincar que este é o fim do mundo", ela provocava. "Vamos viver este dia como o último".
Sorriam. Linhas douradas do sol desenhavam uma tapeçaria de tons acobreados no horizonte. Árvores espalhadas ao longo da estrada, uma cerca de sonhos. O céu num esplendor azulado, quase lilás, sem nuvens, sem chance de chuva, algo de céu tuareg.
Pensamentos desconexos, reflexões sem fundamento. "O que estamos fazendo das nossas vidas?". Talvez o plano, afinal, fosse não ter plano algum.
Estacionaram o carro num mirante de frente para o mar. Pontiagudo, como a proa de um barco, ansioso em ganhar as águas. Aquela extensão absurda, impensável, de beleza e terror. Aquela água sem fim, revolta, aquele barulho tamborilando no ouvido, aquele som de sal e espuma.
Deram-se as mãos. Olhando juntos, em silêncio, o sol emoldurando aquela imensidão, como um rei coroado. Ao redor deles, absolutamente nada. Apenas o vento, apenas o silêncio. Estava ali uma visão para se ter antes de morrer. Uma visão para um dia de fim de mundo. Como ela havia pedido.
Duas horas e trinta e oito minutos haviam se passado. O mais longo intervalo de trabalho da história.
Sorriram. Olharam-se. Aquelas roupas desfeitas, aqueles sapatos sem par. Um conjunto de pernas, braços, abraços e bocas. E suspiros. E vontade de parar o tempo.
Mas era hora de voltar.
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
terça-feira, 2 de outubro de 2012
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
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