Os dois permaneciam imóveis, seus corpos cansados quase inteiramente submersos naquela água morna, que os envolvia. Sob a água, dois pares de pernas entrelaçadas, de pelos, de peles, num diálogo silencioso que misturava curiosidade e carinho. Uma ternura antiga, com jeito de lar.
Por cima da água, seus olhos em cantos opostos da pequena banheira, num parlamento de pensamentos não confessados. As mãos delicadamente se encontrando nas bordas, equilibrando taças de vinho e charutos numa atmosfera sensual, quase cinematográfica.
Música tocando no quarto, nem alto, nem baixo. Algo para se ouvir de olhos fechados, sem dormir. Algo de vento, algo de chuva, algo de amor, algo de dor que lateja. Dedos se procurando, um quê de desespero. Sim, estavam ali. Ainda estavam ali.
Música tocando no quarto, nem alto, nem baixo. Algo para se ouvir de olhos fechados, sem dormir. Algo de vento, algo de chuva, algo de amor, algo de dor que lateja. Dedos se procurando, um quê de desespero. Sim, estavam ali. Ainda estavam ali.
Trocavam sorrisos, lançavam um ao outro olhares de ternura, de desejo, de provocação. Cabelos úmidos, pingando sobre os ombros, arrepios ocasionais, numa penumbra de sombras e velas que transformavam aquele banheiro numa catedral de uma religião inventada. Aquela fé anônima, compartilhada pelos dois na eternidade daqueles momentos fugazes.
Ele decidia entretê-la. Ela gargalhava, dobrando a cabeça para trás, o cabelo claro, desgrenhado, espalhando-se como tentáculos. Ele avançava em busca do seu pescoço revelado. Empurravam-se, buscavam-se. Abraços, beijos, arranhões sem cortesia. Faziam ondas, maremotos, bagunças, feito crianças.
Havia uma felicidade genuínia que os unia. Uma cumplicidade especialista em libertar borboletas de abdômem. Aquela celebração banal, quase secreta. Telefones desligados, cortinas fechadas, uma cama de lençóis desfeitos havia mais dias do que conseguiam contar. Ou queriam. Sobre a mesa, frutas, queijos, vinho, aquela paixão meio renascentista. E peças e pedaços de roupa espalhados pelo chão, como fragmentos de uma batalha. Testemunhas de uma pressa, de uma ausência, de uma distância.
De uma promessa.
Pegariam um avião em uma hora, pouco mais que isso. E seguiriam para lados opostos do país. Como faziam havia tantos anos. Aquela despedida iminente. Os sorrisos sofridos, as lágrimas sempre inesperadas, sussurros, abraços mais apertados.
"Até a próxima vez" pensavam. "Quando, onde for possível".
"Até a próxima vez" pensavam. "Quando, onde for possível".
Olharam-se, os corpos nus ainda entrelaçados, úmidos do banho demorado, unidos por um desejo de alma, não só de carne. Mãos tocando ombros, cinturas, pescoços, cabelos. Uma última imagem, um último registro. Uma poesia de sons, cheiros, sabores. Suor, água, unhas. Palavras órfãs, sem frase, promessas que não se cumprem.
Entraram juntos no taxi, como todas as vezes. Aquele cheiro de couro, de coisa usada. Aquele cheiro de saudade anunciada. Mãos entrelaçadas sobre o banco, como namorados, enquanto as luzes da cidade faziam caleidoscópio na janela do carro. Sinais verdes, vermelhos, cães sem rumo, música de rádio, propagandas de produtos desinteressantes. Uma cabeça sobre um ombro. Um carinho no rosto.
"Seria tarde demais?", pareciam pensar em uníssono. "Seria?"
Entraram juntos no taxi, como todas as vezes. Aquele cheiro de couro, de coisa usada. Aquele cheiro de saudade anunciada. Mãos entrelaçadas sobre o banco, como namorados, enquanto as luzes da cidade faziam caleidoscópio na janela do carro. Sinais verdes, vermelhos, cães sem rumo, música de rádio, propagandas de produtos desinteressantes. Uma cabeça sobre um ombro. Um carinho no rosto.
"Seria tarde demais?", pareciam pensar em uníssono. "Seria?"
Pediram que o carro desse meia volta.
Era hora de perder aquele voo.
Era hora de perder aquele voo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário