quinta-feira, 22 de outubro de 2009

"ERA UMA VEZ... NA FRANÇA OCUPADA PELOS NAZISTAS..."


Não vou ser do contra. "Bastardos Inglórios" (Inglorious Basterds), o novo filme de Quentin Tarantino, é o máximo. O filme é um primor, um deleite do começo ao fim; um desfile de técnica, estilo próprio e originalidade. Tarantino saltou, ao longo destes anos, do estigma de "diretor de filmes B ultra-violentos" para um dos mais completos, independentes e autênticos do momento. Tarantino não segue ninguém, não copia nada e, ao mesmo tempo, copia tudo, ao costurar um filme que é um mosaico infinito de referências. Uma ode apaixonada ao cinema e, sobretudo, ao cinema DELE, de sua juventude; os filmes que marcaram sua vida e fizeram dele este diretor-artista, este maestro da novidade. "O Picasso do cinema", como já ouvi falarem dele.

"Nós não estamos no negócio de fazer prisioneiros"

"Bastardos", estrelado por um elenco impecável, narra a história (fictícia) de uma milícia de judeus americanos que são lançados no coração da França ocupada com o único objetivo de caçar nazistas e espalhar o terror entre os soldados alemães, durante a II Guerra Mundial. E eles ganham fama rapidamente, que se espalha como um vento de terror entre os nazis, sobre histórias de escalpelamento e cabeças esmagadas com tacos de baseball. Os bastardos se transformam no pior pesadelos dos alemães, que já os imaginam como monstros e gigantes. Brad Pitt, que interpreta de forma magnífica o coronel Aldo "Apache" Raine, define muito bem o que são os bastardos: "Nós não estamos no negócio de fazer prisioneiros".

Brad Pitt brilha no papel de Aldo "Apache" Raine

Aliás, Brad Pitt merece atenção especial pela sua atuação. Na pele do coronel Raine, ele está na melhor canastrice possível, com sotaque caipira e excelentes tiradas. Em alguns momentos, Pitt me lembrou muito Marlon Brando, no "Poderoso Chefão". A maravilhosa sequência no cinema, em que Pitt traja smoking branco - ao tentar passar como cineasta italiano - é a reencarnação do chefão inesquecível. Vi Brando novamente, vivo, canastríssimo, poderoso.


O talentoso ator austríaco Christoph Waltz vive o col. Landa, "o caçador de judeus"

Merece grande lembrança, também, a atuação de Christoph Waltz, que leva à tela um dos melhores vilões dos últimos tempos. Ele é o coronel Hans Landa, "o caçador de judeus". Landa é um príncipe, refinadíssimo, educado, poliglota, de fala mansa e suave. Apesar de transparecer os modos de um homem extremamente calmo, as cenas com o coronel Landa são de uma tensão inacreditável. A atuação dele é tão boa ao ponto de transformar um simples copo de leite num objeto de medo. A sequência inicial - clara homenagem ao western "Era uma vez no oeste" de Leone - é dele.


Mélanie Laurent é Shosanna, "o rosto gigante vingativo". Ela brilha.

Outra jóia do filme é Mélanie Laurent, que interpreta Shosanna Dreyfus, a menina judia que consegue fugir das garras do coronel Landa. Shosanna se esconde em Paris, onde dirige um cinema sob falsa identidade. Na marquise do seu cinema, podemos ver discretamente, uma referência à deusa imperfeita, Leni Riefenstahl. A atuação de Mélanie Laurent é incrível. É um show de emoção: amor, desdém, raiva.  Shosanna é a heroína nos bastidores e um dos personagens mais interessantes do filme.


"Bastardos Inglórios" é um filme violento, claro; editado ao melhor estilo Tarantino e pouquíssimo preocupado com a fidelidade histórica. É um conto de fadas barra pesada, no qual o diretor conta a sua própria versão da guerra, onde os alemães não apenas foram derrotados, mas destruídos pelas mãos de uma milícia de soldados judeus. Só na cabeça genial de Tarantino é possível desenhar esse mundo - tão crível - onde judeus bem badass vão à Europa para dar o troco aos nazistas. É o ápice da vingança. O que todos gostariam que tivesse acontecido. O filme inventa um novo fim para a guerra e as figuras mais notórias do III Reich: Goebbles, Goering, Bormann e, naturalmente, Hitler. "Bastardos Inglórios" é caricato, exagerado, engraçado, violento e clássico instantâneo. É um tesouro do cinema moderno, que merece - precisa - ser visto por todos. Absolutamente imperdível.

Inglorious Basterds - Trailer from Florian KARMEN on Vimeo.

Um comentário:

Lilian disse...

Não vi ainda este filme,no entanto
a referencia ao copo de leite me fez pensar no charmoso filme ''suspicion'' do mestre Hitchcock,no qual Cary Grant sobe uma escadaria com um copo de leite
reluzente...numa entrevista ao outro mestre Truffaut,Hitch disse que colocou uma lãmpada acesa dentro do copo,para dar este efeito ameaçador,lance de gênio...