Muito me impressionou a história do senhor português encontrado morto, esta semana, num apartamento alugado, em Paris. Dois anos depois de sua morte. Essa triste notícia da vida real soou como um conto. Segundo os bombeiros, o corpo do imigrante foi encontrado sentado numa poltrona da sala. "Mumificado", apesar do avançado estágio de decomposição. Pode ter morrido do coração, sentado na sua cadeira, sozinho. Sem ninguém para dar por sua falta. Os vizinhos informaram que era um homem discreto, que falava pouco e ouvia mal. As autoridades o identificaram pelo número de série do seu aparelho auditivo. José Gomes de Macedo. Ele era engenheiro civil, nascido em Braga, onde ainda mora a sua ex-mulher, com quem continuava casado legalmente. Segundo a perícia, estaria morto desde 2007. Ninguém entrava no apartamento, de onde há algum tempo exalava um odor ruim, relataram os vizinhos. O senhor, discreto, não possuia conhecidos nas redondezas. E as contas, por débito automático, continuaram sendo pagas. Apenas a luz havia sido cortada e a caixa de correio transbordava com correspondências antigas. Na geladeira, a validade de um iogurte estragado deu algumas pistas: novembro de 2007. É uma crônica real da solidão. De uma vida desfeita e descoberta pela informação de um iogurte velho. Uma crônica sobre o desaparecimento. A história me lembrou uma professora de faculdade que, precavida, solicitou com muita antecedência todos os seus desejos funerários a um advogado. Muito solitária, temia ser descoberta pelo cheiro do corpo. Às vezes a vida é bela, às vezes é crua. Às vezes é, simplesmente, real. Demais.
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
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2 comentários:
nenhum homem é uma ilha.
Precisamos desesperadamente dos outros.
Este senhor,se estivesse engajado
em uma unica atividade social,teria feito falta a alguem.
O homem deve ser um animal politico.
A solidão voluntaria é perigosa.
T.S. Elliot o maior poeta da lingua inglesa disse que o genero
humano não pode suportar tanta ''realidade'',Lacan diz que acordamos dos sonhos,para continuar ''dormindo'',e chama de ''Real'' a instancia crua,não
simbolizada,''a coisa em si '' Das
Ding.
O imaginario enfeita,o simbolico
contorna mas o ''Real'',bem....
concordo com vc.Muito Real esta estoria.
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