sexta-feira, 28 de novembro de 2008

29

O 29 já começa a despontar no horizonte. O céu é parcialmente nublado - como era de se esperar - mas os sinais de crise são mínimos. Chuva passageira, no máximo. E ainda que seja eterno o desejo de nunca crescer, nada impede que se celebre a parada em mais uma estação de trem. Com direito a quilos de pó mágico que fazem voar, por meio da combustão espontânea de pensamentos felizes que nos levam, sem medo, à Terra do Nunca. Pó mágico ou mantega de amendoim. Dá no mesmo. E continuo criança, mesmo que seja apenas - e infelizmente - em pensamento, coração e espírito.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

UM DAQUELES FILMES...


Sabe um daqueles filmes que dificilmente daríamos algum crédito? Ou que ouvimos apenas críticas negativas a respeito? E que, assim, acabam esquecidos nas prateleiras ou em promoções de "R$ 9,90" nas lojas? "Diário de uma louca" (Diary of a mad black woman) é um desses filmes. Tyler Perry, que interpreta diversos papéis (especialmente o da velha louca Madea) é um comediante que deveria receber mais atenção. Ele é ótimo. O filme é adaptação de uma peça homônima (escrita pelo próprio Perry) e trata da volta por cima (com pitadas de vingança e humor escrachado) de uma mulher que sofreu 18 anos com um casamento ruim. No fim das contas, nada de novo: uma família esquisita, milhões de estereótipos manjados, um romance repentino, redenção religiosa e um final feliz. Parece bobo e comum. E é. Mas também não é. Essa é a graça, porque consegue ser um filme interessante, que garante boas risadas e em nenhum minuto das suas quase duas horas, se perde. É, simplesmente, "um daqueles filmes".

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

ILUSTRANDO

"Nighthawks" - Hopper

ATUAL E ASSUSTADOR. SEMPRE.


É impressionante como "O silêncio dos inocentes" (Silence of the lambs) é sempre tão atual e assustador, todas as vezes o assisto. Por mais que a história já esteja decorada do primeiro ao último minuto, com a costura afiada das entrelinhas e pequenas surpresas, o olhar frio e magnético de Hannibal Lecter, interpretado com maestria por Anthony Hopkins, por detrás da parede de vidro, ainda é absolutamente aterrorizante. Muito já se fez, depois do sucesso do filme - que mereceu cada um dos seus cinco Oscars (melhor ator, melhor atriz, melhor diretor, melhor roteiro adaptado e melhor filme), mas pouco se conseguiu. Aquele frio na espinha, o corpo contraído de tensão, a incerteza angustiante sobre o que irá acontecer no próximo segundo. O filme comunica isso aos expectadores. Considero como uma história completa em si e não parte de uma trilogia (ou quadrilogia, sei lá). Assisti os dois filmes seguintes (fracos e gratuitos) e não tive chance de ver o filme mais recente, sobre a juventude de Lecter. Mas algo me diz que é mais um desnecessário prolongamento de algo que já havia sido encerrado, desde o começo. "O silêncio dos inocentes" é uma miríade de coisas, sensações, imagens, estilos. É drama, terror, policial. Transborda tensão, sarcasmo, perigo. Denuncia fragilidade, complexidade e imperfeição. Questiona nossas formas, métodos e padrões. Uma bola de demolição nas nossas estruturas de segurança que, por fim, deixa-nos em silêncio. Como cordeiros.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

NUM DIA RUIM


Te encontrar em casa quando volto faz do meu pior dia um bom dia.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

ILUSTRANDO

"Outono na Bavária" - Wassily Kandinsky

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

UM ACONTECIMENTO


Acho que a crítica cinematográfica criou rejeição gratuita ao diretor M. Night Shyamalan. Concordo que "O Sexto Sentido" é um dos seus melhores trabalhos e que, após ele, houve uma sucessão de fracassos, a exemplo de "Corpo fechado", "Sinais", "A vila" e "A dama na água". Mas uma série de erros não deve engessar a nossa percepção e nos impedir de aceitar um sucesso. Isso é resistência infantil. É birra. O último filme de Shyamalan, para mim, é um triunfo, clássico instantâneo. "Fim dos Tempos" (The Happening) é absolutamente aterrorizante e cumpre seu papel de chocar, angustiar e mexer com nossa subjetividade. A trama é original, e como todo filme do gênero um pouco hiperbólica, claro. Mas todos os exageiros (e superficialidades) podem ser perdoados em nome do todo. Acompanhamos um surto de suicídios sem explicação no leste dos Estados Unidos. Pessoas que se atiram dos prédios, enforcam-se, jogam-se sob máquinas. Por alguma razão, todos perderam o senso de auto-preservação. E qual o motivo aparente disso? Uma resposta da natureza. Uma rápida evolução química para revidar contra à devastação do planeta. Existem, naturalmente, lacunas aqui e ali, mas o filme é competente, não faz rodeios, é visionário. A vontade de abraçar alguém, ao final, é praticamente obrigatória; um desejo desesperado de proteção e amparo, de encontrar a certeza de que aquilo ali é apenas ficção. E não é qualquer filme que consegue fazer isso. Para mim, "The Happening" é um acontecimento e o retorno triunfal de um diretor que se cansou de errar.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

PARABÉNS, SR. MICKEY MOUSE


são 80 anos, desde a primeira aparição do camundongo mais amado do mundo. Em 18 de novembro de 1929, "Steamboat Willie" chegava às telas e fundava um dos ícones eternos da nossa cultura moderna. Portanto, parabéns, sr. Mickey Mouse. O senhor, agora, é um octagenário!

NEM O CÉU É O LIMITE


Quem disse que Biologia não daria um bom game? Spore é a prova inegável disso. É impossível não se render à explosão criativa, de idéias tão originais, que esse aguardado projeto da EA oferece. Até onde sei, foram quase 10 anos de preparativos e expectativas. E o resultado justifica. Que jogo oferece a chance de começar como um organismo microscópico, cuja única finalidade é comer (e não ser comido) e permite conduzir esse ser até batalhas interplanetárias? Nenhum! Não há nada, absolutamente nada, como Spore. A trajetória é incrível e, em nenhum momento, superficial. Da poça à terra. Da terra ao ninho. Do ninho à tribo. Da tribo à sociedade. Da sociedade à guerra. Da conquista de um território à conquista do planeta. E, por fim, à busca por outros planetas. É o jogo definitivo, com elementos interessantes de estratégia, coroado com a melhor investigação genética. Criar patas, bicos, asas; está lá. Mais altura, mais capacidade de interação; também está lá. Paz ou violência, carne ou planta. Como deuses da nova criação, as possibilidades são infinitas. É um mundo ao alcance dos dedos. E as decisões sobre o que será feito dele, nossas. Um jogo que precisa ser jogado. E ainda que a brincadeira seja maravilhosa, levado à sério.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

DIETA MEDITERRÂNEA


Após uma linha descendente de filmes (com exceção de "Matchpoint" e, com um pouco de boa vontade, "Scoop"), Woody Allen faz um filme memorável novamente. Um filme que fica. "Vicky Cristina Barcelona" é delicioso. Uma tragicomédia equilibrada, com a dose certa de humor, sarcasmo, comédia, romance e drama. Um filme que, se fosse comida, faria parte da melhor dieta mediterrânea. Tem inspiração, frescor, inovação, risco, com há um bom tempo parecia faltar a Woody Allen. O elenco formado por Javier Bardem, Scarlett Johansson e Penélope Cruz está à vontade, como se a câmera filmasse a trajetória de suas vidas reais. É a impressão que passa, de que todos estão muito à vontade. Não há muita invenção nem reviravoltas inteligentes. É uma história simples, sobre duas amigas americanas que acabam se envolvendo num triângulo (ou seria quadrado?) amoroso. No meio tempo, reflexões muito pertinentes sobre escolhas, futuro, desejo e o amor. Uma revisão de padrões. Ou melhor, o exercício de se questionar "porque não?". Isso até parece refletir o que o próprio Woody Allen fez consigo mesmo. "Vicky Cristina Barcelona" é uma revisão de seu trabalho, em que ele se permite, com muita categoria, transitar por territórios diferentes e com muito sucesso. Seus personagens (extremamente reais e convincentes) levam isso para a tela sem esforço. Por fim, nem percebemos o tempo que passa, enquanto nos deliciamos em férias de quase duas horas na calorosa cidade de Barcelona. Pacote com direito a um final de semana inesquecível em Oviedo.

ESTÁ TUDO LÁ


John Cusack, no filme "Must love dogs" define com muita precisão a obra-prima cinematográfica que é "Dr. Jivago", baseado na obra de Boris Pasternak: "it´s all there, man". E é basicamente isso. Um filme completo, mágico, que narra uma história dolorosa de encontros e desencontros na Rússa em ebulição social. Acompanhamos a vida de Jivago, jovem médico idealista, que ganha vida pela atuação (sempre) magistral de Omar Sharif, uma aparição em tela. Uma vida cheia de altos e baixos, na qual Jivago é empurrado de um lado para outro como se fosse um náufrago à deriva. E à deriva ele vê sua vida escorrendo por entre seus dedos, nas errâncias pelos Urais. Uma luta pelo retorno. "Está tudo lá": amor, paixão, tragédia, separação, expectativa, preservação. É uma linda e comovente história sobre a necessidade de se construir e se preservar os laços. Laços de amor, de sangue, de família, que nem a guerra e a morte podem desfazer. Absolutamente eterno e indispensável.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

LAMENT OF A YELLOW KITE


LAMENT OF A YELLOW KITE


The Yellow Kite searched for Wind, but found no answer. "Where are you today, my sweet, sweet wind?", she asked softly. But the wind was not there anymore. "Why have you left me? Why can´t I go with you through skies, and oceans and forests?", she cried out. But the wind didn´t even bother to answer her. "Don´t you fancy me, anymore? Come back to me, let me be faithful to you forever", she begged. But the wind barely looked her in the eyes. "Can´t you remember our promises? We would fly countries and kingdoms!", she shouted, alone. But the wind appeared to have no interest in her. "I see, my sweet wind, you don´t love me anymore", she concluded sadly. But the wind kept running without noticing her cries. "My delicate silks and bamboo sticks did not tame your heart", she dropped a few tears.
*
And then the wind decided to look at her."My sweet innocent Kite, don´t you ever believe a Wind´s promise. Your fate is to paint the skies with your yellow skin, cutting clouds, making kids laugh. You can´t have me. No one can. Yesterday you were my dedicated lover and bride. But today, I want to run mountains, skirts and dent-de-lions. And tomorrow I shall run papers, leafes and drying clothes. Yesterday I flew with you. And you flew with me. Tomorrow I might want to go to African lands or Chinese fields. For I have no home, just desire, just paths. I could never promise to love you. Forgive me, then. I must depart now", he answered.
*
And the Kite looked at Wind, as he flew away. She had tears on her eyes, while she kept dancing like a sad fairy. And she cried, and cried, and cried. And her tears soked her completely, making her body heavy like a stone. And no longer she could fly, quickly descending to her kite´s grave on the ground.
*
The green grass embraced her gently, happily holding her with love and devotion."I always looked at you from down here, but you were nothing but an impossible dream, always chasing Wind. I shall love you, dear Kite, because now we are one with the earth", the grass whispered on her ears.
*
The Kite smiled.
And she felt like home.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

ILUSTRANDO

"Baía de Marselha, vista de L´Estaque" - Cézanne

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

SOMETHING ELSE

Não seria esse um pensamento comum a todas as pessoas? Praticamente coletivo? "Tentar outra coisa"; "tentar algo novo"; "tentar algo diferente". Porque chega uma hora que é como se essa idéia gritasse dentro de nós. É o pensamento que nos acorda, junto com o alarme das 8h da manhã, quando abrimos os olhos, perplexos e incrédulos que o dia já amanheceu: "outra coisa". É inevitável o aborrecimento diante da rotina ou o esgotamento da máquina humana que não é máquina, é carne e se desgasta. E sentimos como se as engrenagens, eixos e correias orgânicas estivessem exaustas, sedentas por lubrificação e reparo. É por isso que nós, máquinas humanas, celebramos as tardes de sexta-feira, os feriados e as sonhadas férias. E maldizemos as noites de domingo e as manhãs de segunda-feira. Não pela preguiça mas simplesmente pela vontade DESESPERADA de "fazer outra coisa". Quem inventou, afinal, que a vida se resume em trabalhar, com curtos espaços (curtíssimos) para a resolução de outras coisas? E os 99% restantes da existência? Sim, para mim, trabalho representa apenas "1%". Eu me recuso a dar ao trabalho mais importância do que ele merece. Porque trabalho é apenas um meio para um fim; garimpar recursos em troca do nosso produto subjetivo e pagar contas, compras e caprichos. 1% é mais do que suficente. Porque é o resto que realmente importa: amor, arte, lirismo, silêncio, sono, lazer, viagem, memória, música, cinema, entretenimento bobo, ócio. Perdemos tempo demais nos dedicando ao estresse, como se fosse algo a ser cultuado. Porque inventaram que deveria ser assim e ninguém parece ter se atrevido a dizer o contrário. E assim, pagamos todos os dias o preço de sonhar com "algo diferente". Something else.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

VITÓRIA DA ESPERANÇA

E todos gritaram, o tempo todo, "yes, we can".

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

ILUSTRANDO

"A liberdade guiando o povo" - Delacroix

EUROPA EM DUAS HORAS


É adorável o filme "Bonecas Russas" (Les poupées russes), uma espécie de continuação sem compromisso do "Albergue espanhol". Resumidamente, é um filme gostoso de se ver. O elenco é encantador, os lugares explorados (em Paris, Londres e São Petersburgo) são maravilhosos, a direção é atraente. Emenam charme, sensualidade, musicalidade. Uma história da qual é possível sentir saudade. Sentimos como se conhecessemos aquelas pessoas; como se fossem amigos de longa data que o destino nos dá uma chance de reencontrar. E é tudo muito favorável: diálogos, situações, cenários. Conhecemos um pouco mais sobre Xavier Rousseau, escritor cheio de possibilidades que se vê dividido entre os dois lados do Canal da Mancha. No caminho, paixões, decepções, descobertas e um casamento a se realizar em São Petersburgo. Ao final, fica a reflexão - bem vinda - sobre as escolhas que fazemos na vida e o desejo urgente de subir no primeiro avião com destino ao outro lado do Atlântico. Na falta de tempo e recursos financeiros, "Bonecas Russas" serve perfeitamente como uma breve visita de alguns dias ao continente europeu, com direito, ainda por cima, a ótimas companhias.