quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O BOTÃO DE NAPOLEÃO


Daniel era um menino solitário. Vivia com os seus pais em Marselha, num dos poucos bairros que haviam sobrevivido à ocupação alemã, durante a II Guerra. O pequeno apartamento tinha vista para um grande paredão de concreto que, com algum esforço e quase meio corpo para fora da janela, permitia avistar uma fina linha de oceano que banhava o outro lado da cidade. Era assim, quase pendurado na janela, que Daniel passava muitas manhãs. Tardes e noites também. Ele gostava de "ver" o mar, onde se perdia em pensamentos heróicos nos quais navegava em galeões espanhóis e combatia piratas ferozes. Suas aventuras eram sempre interrompidas pelos gritos desesperados de sua mãe que, quase todos os dias, abandonava a roupa por passar para tirar o filho teimoso da janela. "Você ainda vai cair lá embaixo, Daniel!" Mas não havia quem tirasse aquela ideia fixa da cabeça do menino.

Franzino, esquálido, sempre se machucava nas brincadeiras de rua, algo que lhe rendeu o apelido "Daniel de papel". Como quase nunca participava dos jogos com os meninos, Daniel acabava sempre perdido em seus pensamentos. Quando via os garotos escalando árvores e muros, imaginava os selvagens na África. Quando os meninos faziam brigas e corridas, rapidamente ele os vestia com uniformes e canhões de batalha. Assim era Daniel, um menino de pensamentos.

Daniel não era um menino pobre, embora não estivesse muito longe disso. A vida não era fácil para ninguém com o fim da guerra. No Natal, ganhava às vezes um livro ou soldados de chumbo. E comia chocolate uma vez no ano, quando fazia aniversário. Mas era um menino alegre e carinhoso, destes que nunca voltam para casa com joelhos ralados e vidraças quebradas. Havia algo em Daniel, algo profundo, que ninguém parecia dar muita importância.

Somente uma pessoa sabia que Daniel era um menino especial. Seu avô, Albert, adorava-o e sempre que tinha tempo, passava longas horas com o seu neto em companhia de brioches que trazia quando visitava a família. Os dois atravessavam tardes inteiras discutindo o tema predileto de ambos: Napoleão Bonaparte, "o maior aventureiro de todos os tempos". Daniel jamais esqueceu destas conversas e o cheiro dos brioches que seu avô trazia quase todas as semanas. Guardou para sempre esta memória consigo.

Quando seu avô morreu, apesar de não ter posse alguma, deixou para Daniel aquilo que considerava seu bem mais precioso: um botão de marfim que, segundo ele, havia caído da casaca do próprio Napoleão quando de suas batalhas nas areias do Egito. Vovô Albert usava-o como um amuleto que fazia os olhos de Daniel brilharem como estrelas. Pouco importavam as inverossimilhanças. Para Daniel, aquele botão era o tesouro mais valioso do mundo e ele tinha certeza que havia um dia adornado o uniforme do grande conquistador.

O menino recebeu das mãos de seu pai um pequeno envelope, onde suas mãos pequeninas podiam distinguir um pequeno volume e um bilhete:

"Querido Daniel,
Neste envelope está o bem mais sagrado e valioso para nós, que pertencemos a esta estirpe em extinção de grandes aventureiros. Espero que ele inspire você a viver e narrar grandes aventuras. Guarde-o com cuidado e carinho. Nunca deixe de sonhar. Nunca deixe de acreditar.
Vovô".

Daniel guardou o presente do seu avô por toda a vida. Um botão velho que ele mantinha amarrado ao pulso direito. Seu punho de escritor. "Daniel de papel" acabou se tornando um cultuado novelista de romances históricos, repletos de mistérios e aventuras. Seu tema predileto? A Era Napoleônica.

Sempre que dava autógrafos, Daniel era indagado sobre aquele estranho amuleto. "Budista?". Ao que ele respondia, com polidez, "algo assim". O botão acompanhou Daniel por toda a vida, sendo então passado a filhos, netos e bisnetos. O famoso "botão de Napoleão". Coincidência ou mistério, curiosamente, aquele velho botão trouxe muita sorte, sucesso e longevidade a todos os "aventureiros" que o herdaram. Aventureiros que, contra toda a bruta racionalidade da vida, "nunca deixaram de sonhar e acreditar".

* * *

"General, este botão acaba de cair de seu uniforme".
"Pois guarde-o, então. Trar-lhe-á sorte. Estamos voltando para casa".

"INVENCÍVEL"



Invencível ("Invictus")
William E Henley


Das profundezas desta noite que me consome,
Negra como o abismo, de ponta a ponta,
A qualquer Deus que em algum canto habite
Eu agradeço por esta minha alma invencível.

Nas garras temíveis das circunstâncias
Eu não estremeço nem desespero,
E mesmo sob as dores do acaso,
Minha cabeça, embora sangrando, permanece erguida.

Além de toda a ira e as lágrimas,
O horror e a sombra se costuram
E ainda assim, a ameaça do tempo
Tudo encontra e encontrará, a mim, destemido.

Não importa o quão estreitos sejam os portões
Ou quantas acusações recaiam sobre mim,
Eu sou o senhor de meu destino.
Eu sou o capitão da minha alma.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

ILUSTRANDO


"La Mariee" - Chagall

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

PARA VER E OUVIR: JOHN MAYER ("HEARTBREAK WARFARE")


Se "o amor é um campo de batalha" - e eu acho que ele é -, o novo disco do John Mayer - "Battle Studies" - é uma maravilhosa forma de estudá-lo. Mayer volta melancólico como nunca, transpirando a sensibilidade de sua eterna "crise de 1/4 de vida". "Battle Studies", seu estudo pessoal da batalha que é amar, é um disco que já nasce clássico.


quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

VOCÊ DEIXARIA ELA ENTRAR?


Nestes últimos tempos, em que as histórias de vampiro andam tão maltratadas (não citarei nomes, afinal, gosto não se discute) eis que surge um jóia preciosa sobre o tema. Trata-se de "Deixe ela entrar" (Let the right one in / Låt den rätte komma in), um filme sueco, dirigido por Tomas Alfredson e estrelado - maravilhosamente - pelas crianças Kåre Hedebrant (Oskar) e Lina Leandersson (Eli). Oskar é um garoto solitário e que sofre abusos constantes dos seus colegas na escola. Praticamente sem amigos, o menino se refugia em casa colecionando reportagens sobre assassinatos. Quando não está no quarto, o garoto passeia pelo pátio do prédio, sempre coberto de neve. Um belo dia, o menino nota que dois moradores chegaram para viver no apartamento ao lado do seu: um senhor e uma menina da sua idade. "Pai e filha, provavelmente", pensamos. Mas quem chega ali é Eli, uma menina estranha e misteriosa que depois descobrimos ser uma vampira.


Você deixaria ela entrar?

Os dois se conhecem por acaso enquanto Oskar está na frente do prédio, golpeando uma árvore com uma faca. E, neste momento, iniciam uma amizade insólita, marcada por grande cumplicidade. A inocência de Oskar é o contra-peso perfeito para os olhos experientes de Eli. Seus "olhos de gato" demonstram claramente que a menina, ainda que tenha "12 anos", definitivamente já viveu muitos, muitos anos. Completando o triângulo, se é que podemos pensar assim, há Håkan (vivido por Per Ragnar), que logo entendemos ser o "servo" da pequena Eli, da mesma maneira em que Drácula tinha a Henfield. Håkan não é um vampiro justamente para poder ser os olhos e os braços de Eli durante o dia, enquanto ela se refugia no banheiro, o canto mais escuro do apartamento.


Um vampiro só entra se convidado

O título é uma alusão direta à mitologia vampiresca, na qual um vampiro só pode entrar numa casa se convidado. "Deixe ela entrar" é um filme belíssimo e de variados níveis de interpretação. A um primeiro olhar, uma história de amizade e amor pré-adolescente, cheia de sonhos e platonismo. Se pensarmos na neve como uma metáfora, podemos imaginar o que há escondido sob ela. E que segredos essa neve revelará quando derreter? O desfecho do filme - ainda que não muito surpreendente - é um convite a algumas reflexões sobre Eli mas, principalmente, sobre Oskar. "Deixe ela entrar" é um filme de vampiro e, naturalmente, é marcado por suspense, violência e a busca por sangue. Mas é também extremamente tocante, silencioso e original. Subverte o tema ao nos mostrar um filme de vampiro despido do glamour característico dos seres das trevas. A violência do filme não é gratuita, também, na medida em que vemos a vida de uma vampira retratada nas circunstâncias mais mundanas possíveis. Eli não é uma vampira que surge da névoa e seduz suas vítimas. Ela é uma menina selvagem - notem suas unhas sempre sujas - que simplesmente sente fome e precisa se alimentar. O filme é imperdível para qualquer pessoa que se interesse por um delicioso conto vampiresco ou, simplesmente, aprecie um filme especial. Porque este é uma obra-prima.


terça-feira, 12 de janeiro de 2010

"HOMENS NÃO CHORAM"


Meu pai era um homem bruto e sem educação. Havia estudado o suficiente para conseguir assinar seu próprio nome e sua maior decepção era que eu e meus dois irmãos fossemos "doutores", apesar de nenhum de nós termos diploma de médico ou advogado. Três meninos, oriundos de uma família humilde, religiosa. Três meninos que conseguiram na faculdade uma chance de fuga. Nos formamos para fugir. Amávamos papai e mamãe, mas desde muito cedo todos sabíamos que nosso lugar seria sempre longe dali. Mamãe era uma mulher silenciosa, de poucos dentes e poucas palavras. Papai era um homem de mãos calejadas e cheiro de fumo. A única coisa que o pai sempre nos ensinou, porém, é "que homens não choram".

E isso valia para tudo na vida, não importando a dor ou o sofrimento. Homens não choram. Nem quando ele batia em nós. Mas ele era um homem bom, um homem honesto. O coração era bom, generoso, ainda que do seu jeito. Nunca deixou que nos faltasse nada e não foram poucas as vezes em que o víamos sair de casa com o céu escuro das 4 horas da madrugada e voltar muito depois de o sol se pôr, com os pés feridos e as costas dobradas feito ferro fundido.

Ele não gostava de conversar com a gente. Naquela época, eu achava que era porque ele não gostava de nós. Hoje eu compreendo, com pena e culpa, que ele sentia medo de nós. De que falassemos de coisas que ele não entendesse. De que perguntassemos coisas que ele não soubesse responder. Papai era um homem simples, do campo. Seu universo era feito pelos grãos, pela terra, pelas mãos sujas de trabalhador que veste sua camisa com menos furos para ir à igreja.

Quando queríamos conversar com ele, quando pedíamos um pouco de sua companhia, ele nos mandava ajudar a mãe com os afazeres da casa. Era um homem de ferro, um gigante, que, perto de completar setenta e dois anos, aparentava vinte anos a menos em saúde, aparência e vigor. Era um homem forte que, mesmo tão velho, não aceitava ajuda. "Homens não choram".

Ainda me aperta o coração lembrar de quando ele me levou para a rodoviária. Eu era o último irmão indo embora "para virar doutor". Meu pai me deu um aperto de mão mais forte, apertou meu braço por alguns segundos e me desejou boa sorte. Mas eu conseguia ver, por detrás dos seus olhos claros cada vez mais transparentes, a dor da despedida e o desejo desesperado de dizer tanta coisa sem poder, refém de si mesmo. Lembro de sua mão estendida, acenando adeus e em seguida recolocando o chapéu na cabeça baixa. O pai nunca havia abraçado nenhum de nós.

Tentávamos mandar dinheiro, presentes, mas ele não aceitava. Roupas, sapatos, meias, tudo era entregue para a igreja. Ele era um homem bom. Bruto, cheio de arestas sem polimento, mas um homem de bem. No dia em que mamãe morreu, voltamos para encontrá-lo sozinho naquela casa que parecia ainda menor para os nossos olhos de homens feitos. Ele estava sentado num pequenino banco de madeira, na frente de casa, onde mamãe costumava descascar milho. Tinha, então, 82 anos ainda que aparentasse muito menos. E nos cumprimentou, com um leve aceno de cabeça. Meus irmãos e eu sabíamos que não o veríamos por muito mais tempo. Queríamos ficar ali, em sua companhia, mas ele continuava relutante. Perguntava pouco sobre nossas vidas e para todas as nossas investidas, dizia que não estava precisando de nada. Meus irmãos voltaram, mas eu decidi ficar por mais alguns dias para descobrir o pai que nunca conhecemos e que eles jamais conheceriam. O pai morreria três dias depois.

Quando eu estava arrumando minha mala para ir embora, ele veio até o quarto, parou com timidez à porta, e me chamou para irmos à cozinha. Sentamos à mesa, tomamos um café de fazenda, coado no pano. E foi então que papai resolveu lembrar de seu tempo de menino, de quando roubava mangas, das primeiras namoradas, de quando começou a trabalhar na lavoura, quando conheceu mamãe, quando cada um de nós nasceu, cresceu e foi embora. Ele olhava para baixo, envergonhado, como se estivesse confessando um crime e eu o sentia engasgar com as próprias palavras. Havia tanta coisa guardada ali, como água represada, suplicando por liberdade. Segurei e acariciei sua mão por alguns instantes e ele não apresentou nenhuma resistência.

"Papai, me ajuda a cortar algumas cebolas?".

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

PARA VER E OUVIR: ELVIS PRESLEY ("JAILHOUSE ROCK")


It just doesn´t get old... Impossível ficar parado. Acho impressionante ouvir que esse cara ainda é um dos artistas que mais vendem discos todos os anos. Aliás, pensando bem, não impressiona nenhum pouco...

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

"EU NÃO QUERIA TE ACORDAR... MAS É QUE EU QUERIA MUITO TE MOSTRAR UMA COISA"

Por onde começar para falar de "Onde vivem os monstros" (Where the wild things are)? O novo filme de Spike Jonze, baseado no livro homônimo de Maurice Sendak, é tocante, abissalmente melancólico, absurdamente nostálgico, trará sorrisos e tecerá nós nas gargantas de todos que tiveram infância. E quando digo "infância", não me refiro aos dias de hoje. Quero dizer a infância de devaneios, corridas nas ruas, árvores escaladas, brigas, aventuras e joelhos ralados. Porque é sobre ESTA infância que "Onde vivem os monstros" fala. E para quem viveu ESTA infância, apenas posso dizer que estejam preparados para um filme arrebatador. A história conta um breve momento na vida de Max, um garotinho solitário que, ao ser colocado de castigo, imagina um mundo secreto onde ele é coroado rei de um pequeno povoado de monstros gigantes. Vestindo um pijama de lobo e usando coroa e cetro, Max atravessa uma jornada de descobertas e profundas reflexões.

"Dentro de cada um de nós há uma criatura selvagem"

O filme, de poucos diálogos e trilha sonora de sonho (assinada por Karen O.) é praticamente sussurrado na tela, como uma lembrança que nem sabíamos estar guardada em algum canto da mente. Mas não se enganem: apesar da premissa, "Onde vivem os monstros" não é um filme bobo. Não é comercial nem acessível como Harry Potter ou algo do gênero. Eu diria até que não é para crianças, apesar de ser inspirado num dos clássicos da literatura infantil norte-americana. Spike Jonze construiu uma caixa de lembranças e surpresas que, nas estripulias e malcriações do jovem Max, também fazem homenagem ao menino que ele mesmo foi um dia. "Onde vivem os monstros" é um dos filmes mais incríveis - e improváveis - que tive a felicidade de ver. Não há nada aqui de tradicional, não há lugar comum e, em verdade, quase não há zonas de segurança. É um filme de detalhes e de segredos. E que não tem nenhum pudor em transitar pela melancolia, pela solidão e tampouco tem receio em nos causar tristeza. É como se Spike Jonze simplesmente quisesse partilhar algo especial, belo e triste, e quem se interessar que esteja disposto a saborear o doce e o amargo no trajeto.

Um pequenino filme de detalhes e segredos

Este não é um filme simples, apesar de sua simplicidade evidente. Não é óbvio, não é fácil e definitivamente não agradará a todos. Em resumo, é um sonho breve, de poucos tons e poucas cores. Uma jornada de desbravamento, na qual Max se descobre perdendo seus medos na medida em que também perde um pouco de sua inocência. Um filme para se assistir sozinho. Em verdade, acho que, até agora, não entendi ao certo o quanto "Onde vivem os monstros" me atravessou por inteiro e me comoveu. Posso dizer, com certeza, que ele me proporcionou silêncios e sorrisos de sabores especiais e me permitiu passar alguns bons minutos na companhia do garotinho que um dia eu também fui. Um menino entretido demais com suas aventuras e andanças, capas e espadas, monstros e heróis. É dessa matéria misteriosa e mágica que esse filme precioso é feito. Inesquecível.

sábado, 2 de janeiro de 2010

ILUSTRANDO



Gustav Klimt - "Mãe e criança"

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

ADEUS AO SARGENTO

Ao ano que se vai, desejo boa viagem. Não sentirei sua falta, mas também não te desejo mal, absolutamente. 2009 foi um ano meio inflexível e autoritário. Ofereceu pouco e a um alto custo, como um sargento desses filmes onde o personagem principal sofre num rigoroso treinamento militar. É como se eu tivesse passado esses últimos 12 meses olhando 2009 por seus calcanhares, na altura de sua bota lustrosa, enquanto ele me ordenava o que fazer e me reprimia quando eu não respondia satisfatoriamente. Houve algumas boas horas, claro, e algum descanso e realização. Foram as pausas para o sono, as refeições, as conversas de alojamento e a correspondência com notícias de casa. No resto do tempo, treinamento puxado, horas mal dormidas, gritaria e exercício exaustivo. Não é que 2009 estivesse me preparando para a guerra - ou pelo menos eu espero que não - mas como se o próprio ano fosse uma guerra. Mas, se aqui estou, no ocaso do ano, é porque venci. Não quero me vangloriar, em hipótese alguma. Talvez eu esteja até sendo exagerado e condescendente comigo mesmo. Mas esse 31 de dezembro, para mim pelo menos, tem um sabor inevitável de missão cumprida. E um desejo ansioso pela chegada de 2010 e suas surpresas. A 2009, minha gratidão pela aprendizagem, um adeus sincero e um aperto de mão. Não mais que isso.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

PARA VER E OUVIR: FLORENCE & THE MACHINE ("KISS WITH A FIST")

"GOOD TIMES FOR A CHANGE"


The Smiths - "Please, Please, Please Let Me Get What I Want" (cover do Luxure). Adequado para lembrar do ano que se vai e do outro que já desponta no horizonte.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

UM LIVRO QUE MERECE SER... ROUBADO


Não tenho o menor desejo de encorajar o crime, absolutamente. Mas quem tiver o prazer único de ler "A menina que roubava livros" entenderá o que eu estou dizendo. O bestseller de Markus Zusak conta a história de Liesel Meminger, uma garotinha alemã, esquálida e curiosa, que desenvolve o hábito de roubar livros em plena Alemanha nazista. Uma história delicada, comovente, que parece sussurrada, como um sonho. É um livro que nos faz uma companhia calorosa, porém tímida. Ideal para dias de chuva e é minha leitura de cabeceira neste final de ano. Ao longo do livro, a habilidade narrativa de Zusak nos apresenta personagens e situações como se nós mesmos estivéssemos presentes durante aquele tempo de trevas e histeria. Para tornar tudo ainda mais misterioso e interessante, descobrimos rapidamente que ninguém menos que a Morte é a narradora da história. Por alguma razão, a pequna Liesel marcou a Morte profundamente, de maneira que ela nunca conseguiu esquecê-la. E como a própria contra-capa do livro nos avisa, "quando a Morte decide contar uma história é melhor você parar para ouvir o que ela tem a dizer".

RUAS E AVENIDAS

Mudar de cidade, digo, para inventar uma nova vida, é uma das experiências mais marcantes que alguém pode vivenciar. Ainda mais para "alguém como eu", PHD na arte de criar raízes e apegos. Porque neste processo de (re)descoberta, muito - também em nós - ganha novidade. Aprendemos não somente sobre o novo, mas sobre o que ficou para trás. Na cartografia de novas ruas e avenidas, muito de nossas vidas também se redesenha diante dos olhos, como uma verdade que sempre esteve escancarada mas que, por alguma razão, só fica clara depois que as afastamos dos olhos. Pelo menos é o que sinto, todos os anos, quando volto para a cidade onde nasci para as festas. Observo em silêncio, as ruas e avenidas, da mesma forma que fazia quando criança. Por detrás dos vidros cristalinos, imaginando e construíndo memórias e aventuras ao longo dos antigos trajetos que hoje experimento como turista. Fico recordando, com certa nostalgia, para onde aqueles caminhos me levavam e para que finalidade. Quando eu corria pelas ruas e avenidas desta cidade como se nelas estivessem narradas as histórias não só do meu passado, mas de meu futuro, também. "Morrerei aqui, será?". Mas eis que mudei de cidade. Mudei a vida. Reinventei a vida. Reinventei um lar. E, ainda que vir até aqui seja "voltar para casa", inevitalmente me deparo com a reflexão de que "venho para a minha casa para então voltar para a minha casa". Para as novas ruas e avenidas onde vou desenhando meu presente, novamente imaginando se também estou escrevendo o meu futuro. Percorrendo novos caminhos e registrando para onde eles vão me levando. Não sei. Acho que o retorno é nostálgico, sempre, porque ele escancara no meu rosto que tanto mudou, mesmo que tão pouco pareça ter mudado. É a minha angustiante reflexão sobre a finitude. Algo meio xiita e ortodoxo, rigoroso, de quem "às vezes se pega sem querer aproveitar a festa, pela certeza que ela em breve se acabará". Assim diz minha mãe, em tantos dos seus momentos de sabedoria. Vivo orbitando esses mundos aos quais pertenço intimamente e contraditoriamente desesperado de medo de não pertencer a  nenhum verdadeiramente. Ou então fico simplesmente pensativo demais. É a chuva na janela. É o cheiro de comida caseira. São as fotos, as dezenas de fotos espalhadas que, em sua desconstrução caleidoscópica e nada cronológica da minha história, narram inequivocamente a finitude que tão inocentemente insisto em combater. Ruas e avenidas. Quando o céu nublado se desfaz milagrosamente em raios amarelos e o calor do sol volta a ter sabor de baunilha, relembro que estou feliz, em casa. Enquanto não volto para casa para a companhia de minhas novas ruas e avenidas.

sábado, 19 de dezembro de 2009

O JARDIM JAPONÊS



Angela acordou com uma sensação imperativa de limpeza. Precisava limpar tudo, livrar-se de toda a sujeira que conseguia enxergar pelas paredes, móveis, tapetes e quadros. Tudo parecia revestido de limo, poeira e terra. Algo, uma força maior do que ela mesma, a impelia por todos os cômodos daquela casa antiga. Sentia-se em dívida com aquela herança. Deveria zelar pela imensa casa da colina, notória pelos bailes de outras épocas e fantasmas de dias mais recentes.

Os nativos não arriscavam sequer cruzar a vereda que cortava o grande portão de ferro. Era um caminho prático, que conduzia à pequena cidade com extrema rapidez. Não, nem crianças, nem velhos, nem moças, ninguém se autorizava a cortar caminho por ali. Evitavam a casa como quem evitava o diabo. Preferiam descer pelas montanhas, era mais seguro. Havia algo ali, para dentro dos portões caídos e enferrujados. Algo velho, muito velho, que sussurrava por entre a grama alta e o barulho das tábuas que se retorciam como se conversassem umas com as outras. Havia algo ali. Algo sinistro, que fazia as mais velhas arregalarem os olhos e mastigarem cada palavra ao dizerem que “aquela era uma casa de mortos”.

Mas aquela casa era tudo que restava à Angela. Seu marido a havia abandonado. E seus filhos, já deixando a universidade, haviam esquecido dela há anos. Tudo o que sobrou era a casa de seu velho tio, meio-irmão de sua mãe, um famoso fazendeiro de tabaco que havia perdido tudo em dívidas, jogos e mulheres. Alguns ainda a disseram que tudo foi destruído pelo seu atrevimento insistente em “mexer com forças que não deviam ser incomodadas”.

Naquela manhã, no entanto, era como se um exército de sombras e vozes e ventos a arrastassem por toda a propriedade. Sentia-se sem pés, flutuando a um palmo do chão. Observava as árvores mortas, um balanço preso por apenas por uma corda, um velho poço, fontes dágua com anjos desfigurados pelo tempo e restos de móveis do que um dia foi um jardim.

Então se viu parada diante de um gigantesco relógio de parede. Desperta do transe, sentiu um ímpeto violento de derrubá-lo no chão. O barulho ensurdecedor fez os cachorros latirem ao longe. Mas isso pouco importou à Angela que, caminhando descalça sobre restos de vidro, ponteiros e engrenagens ainda agonizantes, deparou-se com um túnel escuro, aberto grosseiramente na parede, mas perfeitamente escondido atrás do relógio, quando ainda inteiro.

Sem pensar duas vezes, abaixou-se e, no limiar de engatinhar, enveredou-se pelo buraco escuro, como uma fenda no tempo. Não conseguia, sequer, enxergar suas mãos. Rastejava. Sentia os joelhos sujos e as mãos úmidas, enquanto prosseguia. E não enxergava absolutamente nada. Nem ouvia nada. Era como se estivesse só, completamente só, num espaço sem donos, sem regras, sem física. Apenas tinha o desejo de continuar. Aos poucos, começava a sentir pequenas pedras por entre seus dedos, e um sopro de vento ameaçava tocar o seu rosto. Até que começou a enxergar um ponto de luz, quase se perdendo no infinito. Foi quando teve a certeza de continuar.

Num determinado momento, sentiu que o seu túnel ficava cada vez mais estreito, apertando seu corpo contra as paredes molhadas, que já a sufocavam. Mas nem por isso deixou de continuar. Seu queixo começava a roçar no chão, quando pôde enfim avistar uma pequenina janela. Havia chegado ao seu ponto de luz. Forçou com o punho fechado a pequena abertura por onde mal passaria uma criança pequena. E arrebentou as dobradiças com a sua determinação.

Espremeu-se como uma enguia e, com angustiosa dor, conseguiu se projetar para fora daquele ventre de barro e pedra. E assustou-se com o silêncio que a circundava. Estava de pé, num jardim japonês, branco, estranhamente sem cor alguma e em silêncio abissal. Grama branca, pedras brancas, lanternas brancas, cerejeiras brancas, céu branco, sol branco. Seu corpo estava branco, e seu cabelo, vestido, unhas e pés e mãos. Tocou-se como quem toca uma miragem e percebeu que tudo aquilo era real. Brutalmente real.

Angela olhou para trás, procurando o seu caminho de retorno. Mas ele havia se fechado, como uma ferida cicatrizada, que deixa evidente a silhueta de corte recente. E desmaiou, sentindo vividamente cada centímetro do seu corpo batendo contra o chão branco, sem cheiro nem temperatura. A fina areia a envolveu e ela pôde sentir mãos delicadas correndo pelo seu cabelo, pescoço, rosto. Não quis mais abrir os olhos. Deixou-se afundar, lentamente, sucumbindo como uma pedra que corta a água do mar no seu trajeto para o fundo. E sentiu-se em paz.

* * *

“Esta noite tive o sonho mais estranho de minha vida”, disse Angela ao seu marido que, fechando a porta de casa, sequer olhou em sua direção. “Tenha um bom dia, Angela”, disse apenas, “não me espere para o jantar”.

Conformou-se, como sempre. Limpou a mesa das migalhas de pão e lavou toda a louça. Sobre a cômoda, ainda estavam as correspondências não abertas, desde o dia anterior. Para ela, apenas um envelope, de um escritório de advogados associados.

BLAKE, NORTHWEST & FUKUGAWA – ADVOGADOS ASSOCIADOS

* * *

Não havia quem não apreciasse a misteriosa arte de Eiko Yamasaki. Suas gravuras estampavam camisetas, postais e inspiravam diretores de cinema e estrelas pop. Seus motivos eram sempre os mesmos: mulheres desesperadamente sós, caminhando por jardins sem cor, povoados de sombras e fantasmas. Quando questionada sobre suas inspirações, tinha sempre pronta a resposta:

“Estas mulheres estão vivas. E habitam os meus sonhos, todas as noites”.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

"ODE AO GATO" (PABLO NERUDA)



Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça, voo.
O gato,
só o gato
apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.

O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato
do bigode ao rabo,
do pressentimento ao rato vivo,
da noite até seus olhos de ouro.

Não há unidade
como ele,
não tem
a lua nem a flor
tal contextura:
é uma só coisa
como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno
firme e sutil é como
a linha da proa de um navio.
Seus olhos amarelos
deixaram uma só
ranhura
para jogar as moedas da noite.

Oh, pequeno
imperador sem orbe,
conquistador sem pátria,
 tigre mínimo de salão, nupcial
sultão do céu
das telhas eróticas,
o vento do amor
na intempérie
reclamas
quando passas
e pousas
quatro pés delicados
no solo,
cheirando,
desconfiando
de todo o terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.

Oh, fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico
e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta
dos quartos,
insígnia
de um
desaparecido veludo,
seguramente não há
enigma
na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti e pertences
ao habitante menos misterioso,
talvez todos o acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios
de gatos, companheiros,
colegas,
discípulos ou amigos
do seu gato.

Eu não.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço ao gato.
Tudo sei, a vida e seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica,
o gineceu com seus extravios,
o por e o menos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,

a casaca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou na sua indiferença,
o seu olho tem números de puro.

PARA VER E OUVIR: CAETANO VELOSO CANTA "PALOMA" EM "FALE COM ELA", DE ALMODÓVAR


Linda homenagem de Almodóvar, ao transformar Caetano Veloso em um sonho num de seus filmes mais especiais. "Fale com ela" é, inteiro, um sonho.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

COISA DE SONHO



Vitrine da Maison Hermès, em Tóquio. Design de Tokujin Yoshioka. Modelos virtuais "sopram" de verdade os lenços delicados em exposição. Um deleite para os olhos, um absurdo de minimalismo. Extremamente silencioso e japonês. Coisa de sonho.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

NIKOLAI E O SONHO


Dificilmente Nikolai se afastava da janela. Era sua morada, seu refúgio. Era o espaço onde passava dias e noites, noites e dias, com breves interrupções para os outros afazeres de sua vida. Nikolai era conhecido por sua discrição. Movimentos curtos e precisos, caminhar comedido, silencioso e elegante, mas carinhoso e dedicado com seu principal protetor: um senhor de 89 anos, famoso professor de música, já nos últimos suspiros da sua passagem pela terra.

Nikolai foi praticamente adotado por ele, num desses acasos do destino em que duas almas se esbarram por alguma razão qualquer e decidem continuar juntas. Nikolai e seu protetor eram companheiros fiéis numa vida de muitos silêncios. Nos dias ensolarados, o velho gostava de caminhar até a esquina, onde comprava peixe e pão frescos. Almoçavam juntos, salmão e pão preto, no terraço do velho apartamento em Paris.

Em dias chuvosos, gostavam de contemplar juntos a janela molhada e a cidade cinza no horizonte restrito daquele recorte de meio metro quadrado que emoldurava uma Paris lindamente iluminada e colorida. Nesses momentos, o velho bebericava conhaque e balbuciava algumas lembranças desconexas de um passado já há muito perdido na poeria do tempo. Um passado de recitais e alunos medíocres, de festas e moças mais ávidas por casamentos de contos de fadas do que pelo saber musical. Nikolai não se manifestava e preferia observá-lo atento, ocasionalmente se distraindo por algum passarinho na janela ou um bocejo incontrolável. Nada que incomodasse o velho, no entanto.

E assim eram os últimos dias daqueles dois amigos inseparáveis. Até que, enfim, o velho professor não se levantou mais de sua cama solitária. Havia partido. Nikolai entrou vagarosamente no quarto, passo ante passo, e contemplou o corpo frio sobre o catre daquele quarto sem luxo, incrédulo à sua maneira e demonstrando supresa e melancolia. Sentou-se por alguns instantes e olhou para o teto como se conseguisse visualizar seres flutuantes. E resignou-se com a ideia de que seu protetor o havia deixado, caminhando lentamente até o antigo piano que decorava a sala como uma ilha de mogno vermelho num oceano de cinzas.

Lá, deitou elegantemente sobre o teclado frio que abraçou seu corpo pequenino como uma almofada de marfim e ébano. Fechando os olhos vagarosamente, pareceu-lhe estar ingressando em mais num daqueles sonhos enigmáticos que tinha quase todas as noites. Seus sonhos de gato. Sonhos em que não era um gato, mas um garotinho solitário.

* * *

Um solavanco repentino retirou Nikolai de seu sono profundo como um susto. O trem acabava de chegar à estação, consumindo tudo ao seu redor em fumaça e barulho. Era uma manhã muito fria quando Nikolai chegou com sua mãe à Paris, em 1948.

"Veja, Nikolai, que linda cidade. Seremos felizes aqui, meu filho, estou certa de que seremos felizes aqui".

Nikolai olhou para sua mãe, que sorria, maravilhada com os ares de Paris. Filho de um paraquedista morto na guerra, Nikolai chegava à cidade e enfim conheceria o seu avô, que não via desde o seu nascimento. Com a luz que lentamente começava a despontar, colorindo as ruas preto-e-branco, Paris se descortinava diante de seus olhos iluminados e ávidos pelas novidades. Nikolai aprenderia a tocar piano com o seu avô. Era esse o plano. E rapidamente o menino esqueceu de seu sonho. Mais um sonho enigmático em que era, não um garotinho, mas um gato de pelo listrado e olhar silencioso.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

PARA VER E OUVIR: SARAH MCLACHLAN ("ADIA")

PARA VER E OUVIR: SARAH MCLACHLAN ("I WILL REMEMBER YOU")


Hino oficial da saudade e da nostalgia. O filme no clipe é "Os irmãos Mcmullen".

sábado, 5 de dezembro de 2009

EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO. SEMPRE.


V

T.S. ELIOT

So here I am, in the middle way, having had twenty years—
Twenty years largely wasted, the years of l'entre deux guerres
Trying to use words, and every attempt
Is a wholly new start, and a different kind of failure
Because one has only learnt to get the better of words
For the thing one no longer has to say, or the way in which
One is no longer disposed to say it. And so each venture
Is a new beginning, a raid on the inarticulate
With shabby equipment always deteriorating
In the general mess of imprecision of feeling,
Undisciplined squads of emotion. And what there is to conquer
By strength and submission, has already been discovered
Once or twice, or several times, by men whom one cannot hope
To emulate—but there is no competition—
There is only the fight to recover what has been lost
And found and lost again and again: and now, under conditions
That seem unpropitious. But perhaps neither gain nor loss.
For us, there is only the trying. The rest is not our business.

Home is where one starts from. As we grow older
The world becomes stranger, the pattern more complicated
Of dead and living. Not the intense moment
Isolated, with no before and after,
But a lifetime burning in every moment
And not the lifetime of one man only
But of old stones that cannot be deciphered.
There is a time for the evening under starlight,
A time for the evening under lamplight
(The evening with the photograph album).
Love is most nearly itself
When here and now cease to matter.
Old men ought to be explorers
Here or there does not matter
We must be still and still moving
Into another intensity
For a further union, a deeper communion
Through the dark cold and the empty desolation,
The wave cry, the wind cry, the vast waters
Of the petrel and the porpoise. In my end is my beginning.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

CONTEMPLADORES DE JANELAS


Uma pesquisa decidiu investigar o que gatos domésticos fazem quando estão sozinhos em casa. Para isso, câmeras escondidas tiraram fotos a cada 15 minutos, registrando o que os gatos faziam de seu tempo enquanto os donos não estavam por perto. Quase 800 fotos foram estudadas e se descobriu que, na maior parte do tempo, os gatos domésticos dedicam seus dias a olhar pelas janelas. O restante, dedicam a dormir, esconder-se e brincar. Contempladores de janelas. Amo-os ainda mais hoje.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O GATINHO MAIS LINDO DO MUNDO


Não dá para resistir... é terapêutico.

O TEMPO & EU

Eu e o tempo. O tempo e eu. Relação de amor e ódio que, neste final de ano, comemora três décadas. O tempo passa, realmente, diante dos nossos olhos e de forma praticamente imperceptível. Faço jogos comigo mesmo, sem grande fundamento, que acredito poderem me ajudar a mensurar sua passagem silenciosa e devastadora, ainda que rica e repleta de memórias, lembranças, aprendizado e satisfação. Gosto de me olhar no espelho, ocasionalmente, e tentar enxergar o "eu" de 5 anos atrás. De 10 anos atrás. 15, 20. E é como se eu conseguisse, porque fica a ilusão de que "não mudei tanto assim", que "estou mais ou menos da mesma forma". E aí surgem os clichês, de que alguns fios de cabelo branco e um punhado de rugas discretas não deixam mentir. Mas é como se eu não as enxergasse e acreditasse, de fato, que não mudou muita coisa. Sou o mesmo, quase igual, apenas com anos a mais. E a ilusão até dura, surpreendentemente. Mas é inevitável constatar que tanto muda, que tanto mudou. Muitas vezes para melhor, outras para pior, mas sempre é um conjunto de ideias sobre uma vida que já ficou para trás. E isso é extremamente doloroso. Ainda que nada se perca, já que tudo o que "fica" é convertido em memória. Comos os discos que gravamos em fita, que gravamos em cd, que gravamos em dvd, que gravamos em bluray... Mas o original ficou para trás e tenho certeza que, na conversão contínua de acontecimentos reais em lembranças bluray, muito se perde. Caminhamos para frente, em marcha firme, sem a opção de retroceder. No máximo, olhar para trás. Dezembro é emblemático para mim, por razões óbvias. É o mês do desfecho, do balanço, de começar a contabilizar o ano. 2009, definitivamente, não foi um ano bom. Ele teve "seus momentos". O ano foi uma maratona, com breves e fugazes momentos de descanso. Sinto que andei quase todo o tempo na reserva, sem muita chance para abastecer, para carregar as baterias apropriadamente. Foi um ano em que senti na pele, como corte, a sensação do amadurecimento. Como se tivesse deixado parte de um "eu mais jovem" na estação. Como se eu tivesse dado adeus definitivo a algo de mim que já não poderia mais me acompanhar na jornada; provavelmente porque em breve - ou quem sabe neste exato momento - já esteja em companhia de um novo eu - ou parte dele - com quem seguirei a partir de agora. Catarse, devaneio, filosofia sem muito fundamento. É algo que vem e volta, geralmente nessa época do ano em que carimbamos "mais um". Fazia tempo que não sentava na ilustre companhia de meus botões, na minha solitária contemplação de janelas, enquanto observo o silêncio da rua, os carros que passam, os apartamentos acesos de maneira aleatória como um sorriso largo onde faltam alguns dentes. Talvez porque eu acabe sentindo tanta falta de mim mesmo - ou de algum eu que se foi e não voltará mais - acabo evitando socializar comigo mesmo para não constatar a inevitável passagem do tempo. Porque sinto saudade. São meus jogos sem grande resultado. Não dá para enganá-lo, não tem jeito. E acabo dançando conforme sua música e obedeço, como servo infiel, este meu mestre rigoroso. E, passada a estranheza de todos os finais de ano, continuamos a seguir juntos. O tempo e eu.

PARA VER E OUVIR: PATO FU ("SOBRE O TEMPO")

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

GRATIDÃO

"Agradeçamos, porque se hoje não aprendemos muito,
Ao menos aprendemos um pouco. E se não aprendemos um pouco,
Ao menos não adoecemos. E se adoecemos,
Ao menos não morremos. Portanto, agradeçamos".
(Buda)

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

NASRUDIN E A MULTIDÃO

Conta uma lenda Sufi que Nasrudin chegou a uma pequena aldeia e todos imediatamente julgaram-no como um velho sábio. Não demorou muito até que uma multidão se aproximou do velho, aguardando ansiosamente por palavras de sabedoria e iluminação. "Mas quem havia lhes dito que Nasrudin era um sábio?", pensou. Para não frustrar seus expectadores, no entanto, Nasrudin placidamente abriu seus braços e disse aos presentes:

"Suponho que, se estão aqui, já sabem o que tenho a dizer".

Eis que a turba respondeu: "Não! O que você tem a nos dizer? Não sabemos, diga-nos, por favor!".

E Nasrudin continua: "Se vieram até aqui sem saber o que venho a lhes dizer, então não estão prontos para escutar". Dito isto, o velho se levanta e vai embora, deixando todos atônitos. Alguns já julgavam-no louco, quando alguém gritou, maravilhado:

"Ele tem toda a razão! Como podemos nos atrever a vir aqui se sequer sabemos o que viemos escutar? Somos estúpidos e perdemos uma chance maravilhosa. Quanta iluminação, quanta sabedoria! Vamos pedir ao velho que nos dê uma nova chance!"

E alguns homens correram em busca de Nasrudin e suplicaram-no que voltasse e ensinasse, novamente, seus conhecimentos. Após grande insistência, o velho retorna à aldeia e encontra uma multidão ainda maior na praça. E diz, assim que chega:

"Suponho que já sabem o que tenho a lhes dizer".

Lição aprendida, a multidão responde, quase em coro: "Sabemos, claro. Por isso viemos".

Ao ouvir a resposta, Nasrudin balança a cabeça e lhes diz: "Bom, se já sabem o que vim lhes dizer, não vejo necessidade alguma de repetí-lo". E, novamente, abandona as pessoas e vai embora. A platéia se cala em profundo silêncio até que um começa a gritar:

"Maravilhoso! Iluminado! Precisamos ouvi-lo mais, desejamos mais de sua sabedoria!"

Outro grupo de homens corre, novamente, em busca de Nasrudin e, de joelhos, imploram ao velho que volte. Nasrudin consente e é recebido como um rei pela aglomeração de pessoas sedentas por seu conhecimento. O velho se volta para eles e diz:

"Suponho que já sabem o que vim dizer".

E então, um representante responde com confiança: "Alguns sim, mestre, mas outros não". E a praça é tomada por grande silêncio e expectativa. Todos observam Nasrudin até que ele responde, serenamente:

"Neste caso, os que sabem que contem aos que não sabem". E, dito isso, Nasrudin foi embora.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

PARA VER E OUVIR: "CLUBE DA ESQUINA N.2" (VOZ E VIOLONCELO)

Um presente aos assíduos e queridos visitantes deste blog de devaneios semi-superficiais e reflexões quase profundas. Marcelo Vieira apresenta sua versão para o "Clube da Esquina n.2", de Lô e Márcio Borges, na Universidade do Estado da Louisiana (EUA). Essa apresentação é divina. Assistam até o final. É de arrepiar.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

UM POUCO MAIS DE CALLAS: "VOI LO SAPETE", DA CAVALLERIA RUSTICANA (LONDRES, 1973)


Uma rainha, uma aparição. Morreria apenas 4 anos depois desta apresentação, vitima de um coração partido, em seu solitário apartamento na Rua Georges, em Paris.

domingo, 22 de novembro de 2009

PARA VER E OUVIR: MARIA CALLAS CANTA "MIO BABBINO CARO" (JAPÃO, 1974)


Callas, eterna, imortal, inesquecível, insuperável. Ela se envergonhava desta que é uma de suas últimas apresentações públicas. Para a diva, Tóquio havia sido um desastre. Ao observarmos sua performance neste vídeo, impecável, precisa, percebemos o quanto essa deusa imperfeita foi dura consigo mesma por toda a sua vida. Centenas de cantoras líricas atuais dariam a vida para serem eternizadas nesta "apresentação vexaminosa" aos altos padrões de Callas. A apresentação é bela, tocante, com essa vibrante e doce voz inconfundível de anjo que Callas gravou para sempre em nossas mentes e corações. Inesquecível.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

"SLEEVEFACE"


Algumas pessoas transpiram criatividade. O "sleevefacing" é um exemplo disso. A técnica - absurdamente pop-art - consiste em pegar uma capa de disco (geralmente vinil) e se mesclar a ela da melhor forma possível, respeitando o cenário, roupas, cabelos etc. Genial. Para quem se interessar, a dica é o site sleeveface.com. No detalhe, uma menina brinca com a capa da trilha sonora de "Encontros e Desencontros".

ILUSTRANDO


The wanderer above the mists (1818) - Caspar David Friedrich

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

PRIMEIRA IMAGEM DE "SOMEWHERE"


Os filmes de Sofia Coppola são assim, meio como ela: silenciosos, discretos, em um ritmo diferente do mundo. Isso define também sua visão e estética e faz dela uma diretora original e absolutamente acima da média. Os filmes de Sofia Coppola começam assim, meio como sonho: um sopro, uma ideia, um sussurro de novidade e vão ganhando força, como o vento, até se materializarem em cinema. A história de "Somewhere" narra a vida de um ator "perdido" e sem rumo na vida e que habita o Chateau Marmont, famoso hotel de Hollywood. Um belo dia, ele recebe a visita inesperada de sua filha de onze anos, que o faz repensar sua existência até então. Sua filha se transforma na sua última chance de retorno e conexão com a realidade. No elenco principal, Stephen Dorff, Elle Fanning e Michelle Monaghan. "Somewhere" tem roteiro e direção de Sofia Coppola e, diz-se, é inspirado em muitos momentos da sua vida. Vamos aguardar, então.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

PARA VER E OUVIR: LUDÉAL ("ALLEZ L´AMOUR")


Um brinde ao amor e ao cinema, repleto de deliciosas homenagens...

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

ÁGUIA E LOBO, TÃO PERTO, TÃO LONGE

Eis a cena mais comovente de "O Feitiço de Áquila" (Ladyhawke): a história de dois amantes, separados por uma maldição. Ele, lobo à noite. Ela, águia pela manhã. Sempre juntos, eternamente separados. Na tênue costura entre a madrugada e o crepúsculo, porém, os dois tem uma chance breve de se reencontrar. Mas, ainda assim, não é suficiente. Quem já viu esse filme sabe do que estou falando; da angustiosa corrida de Navarre e Isabeau para se reverem, nem que por alguns segundos. É de cortar o coração.

PARA VER E OUVIR: DAVID BOWIE ("HEROES" LIVE 1977)


Too cool for school.

PARA VER E OUVIR: DAVID BOWIE ("SPACE ODDITIY")

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A NORA DOS SONHOS (?)


"My sassy girl" (Ironias do Amor) é um daqueles filmes que poucas pessoas darão muita bola. Nem chegou ao cinema (foi lançado diretamente em DVD), não possui um elenco estelar e é uma refilmagem de um filme sul coreano. Bom, eu tenho uma queda por este tipo de filme, meio "underdog" e "Sassy" é justamente aquele filminho bobo, sem pretensão, que a gente acaba pegando por acaso na TV e nem percebe que estamos vendo até o final, para ver no que dá. É um filme bobo, sim, recheado de deliciosos clichês e roteiro inocente (mesmo a refilmagem possui um intenso tempero da inocência oriental); mas é um filme delicioso, adorável e que recomendo a qualquer pessoa de bem que deseje assistir a algo banal mas que faz sorrir. Isso define "Sassy Girl":  um filme banal, que faz sorrir e pode até emocionar. Tudo depende do humor de quem vê. O filme narra a história de Charlie (interpretado por Jesse Bradford), um rapaz do campo que vai para a cidade grande em busca de realizar conquistas profissionais idealizadas pelos seus pais. Num acaso do destino, ele esbarra em Jordan (Elisha Cuthbert), uma menina rica e avoada, mas marcada por uma grande melancolia que não revela a ninguém. Ou pelo menos tenta não revelar. Jordan é uma mistura de Claire (de "Elizabethtown") e Sarah (de "Serendipity"), uma menina linda, encantadora e cheia de personalidade. Ela, que é destemida e cheia de vitalidade, é o oposto de seu par, Charlie, um rapaz quieto de poucas ambições. Os dois, juntos, formam um estranho casal que por alguma razão - que só vamos entender ao final - não consegue ficar junto. Jordan provoca Charlie e leva-o aos extremos da raiva e da paixão. E desaparece, como um sonho. Mas ela tem seus motivos que, estranhos ou justificados, compreendemos eventualmente. O filme possui direção elegante, bela fotografia e trilha sonora e se passa em Nova York, como toda boa comédia romântica. Meu momento preferido do filme é a cena no parque, em que Jordan pede a Charlie para andar até outro extremo para verificar se ele consegue ouvi-la; único momento em que ela consegue dizer a ele parte do turbilhão de emoções que ela sente. Como ele não pode ouvi-la, a cena possui um aspecto muito doce, eloquente e comovente. Elisha Cuthbert, que todos conhecem como a filha de Jack Bauer na séria "24h", na verdade, está muito bem neste papel, que seria perfeito para Kirsten Dunst há alguns anos. "Ironias do Amor" é um filme delicado, pequenino e que não recebeu nenhum grande mérito ou elogio (as críticas, aliás, não são boas). Mas garanto que dará boas surpresas a quem lhe der alguma chance. Recomendo.

domingo, 8 de novembro de 2009

E SE A ÚLTIMA PESSOA DO MUNDO PARA TE SOCORRER FOSSE... VOCÊ MESMO?


"Moon", filme do estreante Duncan Jones (filho de David Bowie) é um filme impressionante. É épico, original, assustadoramente interessante. "Moon" é um filme sobre solidão e silêncio. Sobre realidades que se descortinam por detrás do óbvio. É como uma pequena porta que se abre e revela um abismo. Não sei bem ao certo como explicar esse filme, tampouco resenhá-lo. É um filme excelente, imperdível e uma experiência única para qualquer fã de ficção científica. Estrelado por Sam Rockwell, no papel do astronauta Sam Bell, o filme narra a história de um mineiro lunar, preso numa base claustrofóbica na lua (referências a '2001' de Kubrick transbordam). Há 3 anos, Sam está numa base lunar em busca de energia alternativa para o planeta terra. Sua única companhia é um robô adorável chamado Gerty (voz de Kevin Spacey). Na rotina do dia, monitorar "escavadoras", fazer exercício e se perder em devaneios e saudade de sua mulher e filha, que estão na terra. Um belo dia, algo foge do controle, e um acidente muda o mundo (ou melhor, a lua) de Sam de cabeça para baixo. Ao acordar na enfermaria, Sam decide voltar ao local do seu acidente. Para sua surpresa, encontra a si mesmo ali, inconsciente. Ao trazer o outro Sam de volta para a base, uma série de eventos se desenrolam numa trama surpreendentemente complexa para um filme com apenas 2 personagens, um cenário e pouco mais de 2 músicas. Sam passa a conviver com o outro Sam e nenhum dos dois chega a um consenso sobre "quem é o clone de quem". Mal sabem ambos que a solitária base lunar ainda guarda muitas surpresas. Por baixo da penumbra e do silêncio da lua, "Moon" transpira filosofia e metafísica ao mostrar questões impossíveis e a história de dois homens iguais e opostos que descobrem, mais cedo ou mais tarde, que devem um ao outro imensa cumplicidade. Muito ainda vai ser falado sobre esse filme pequenino e precioso. Um filme de silêncios e deliciosos socos na barriga. "Moon" é um filme que nos leva para a lua e nos puxa de volta, como numa montanha-russa. Imperdível.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

PARA VER E OUVIR: MISSA EM DÓ MENOR (KYRIE), DE W.A. MOZART


A entrada da soprano Miah Persson é de dilacerar o coração.

PARA VER E OUVIR: TRISTES APPRÊTS, PALES FLAMBEAUX (J. P. RAMEAU)


Belíssima - e doída - apresentação da Mezzo-soprano Magdalena Kozena.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

FLOWER

Para aqueles que acreditam - erroneamente - que videogames se reduzem a tiros, explosões, guerras e coisas do gênero, eis que geniais desenvolvedores surgem com um jogo que é belo, simples, mágico e poético. Trata-se de "Flower". Exclusivo da Playstation Network, "Flower" dá ao jogador o papel de ninguém menos que o Vento. Em primeira pessoa, "com os olhos do vento", navegamos pradarias e paisagens de sonho, brincando com a grama como se estivéssemos penteando-a, levando em nosso trajeto pétalas de flores coloridas que se abrem com a nossa passagem. Tudo isso ao som de melodias doces que fazem deste jogo não uma diversão rápida, mas uma experiência de paz e profundo relaxamento. Terapêutico. "Flower" é um jogo, claro. E há objetivos a serem cumpridos. Mas tudo é feito com tamanha beleza que dificilmente alguém estará preocupado com o andamento do jogo e muito mais em se entregar na corrida leve e sem pretensão do vento. Lindo, lindo demais.

PARA VER E OUVIR: SARAH MCLACHLAN ("ANSWER")


Lindo. A voz de um anjo, sempre.

domingo, 1 de novembro de 2009

A GENIALIDADE SEM LIMITES DE CHAPLIN


Esta cena inesquecível de "O Grande Ditador" é de fazer dobrar de rir. Dizem que nem o próprio Hitler aguentava o absurdo da imitação e ria desta deliciosa e impossível caricatura.

A SOMBRA DO VENTO


Barcelona, 1945. Daniel Sempere completará 11 anos e ganha um presente especial de seu pai: uma visita a um lugar misterioso e fantasmagórico, "O Cemitério dos Livros Esquecidos". Trata-se de uma biblioteca secreta, onde Daniel descobre o autor Julián Carax e seu livro "A Sombra do Vento". O garoto se encanta pela obra e decide investigar mais sobre seu escritor desconhecido e descobre que alguém vem queimando sistematicamente todos os exemplares de todos os livros que Carax já escreveu. Na verdade, o exemplar que Daniel tem em mãos é tudo o que restou. A curiosidade infantil se converte rapidamente numa cruzada obscura e repleta de segredos. Romance e medo se costuram diante dos olhos de Daniel ao passo que ele segue em sua jornada para desvendar os mistérios em torno de Carax e um livro maldito que mudará a vida de Daniel para sempre. "A sombra do vento", bestseller de Carlos Ruiz Zafón é um daqueles livros que descobrimos fortuitamente (ou melhor, que nos descobrem) e simplesmente é impossível de largar. As ruas de Barcelona, seus suspiros e murmúrios, narram segredos e belezas que fazem deste um livro precioso e de leitura obrigatória. Para quem se interessar, uma passagem que me roubou alguns bons arrepios. O garoto Daniel, de uma varanda, percebe que um estranho o observa da rua:

"Vestia uma roupa escura, uma das mãos afundada no bolso da jaqueta, a outra acompanhando o cigarro que largava um rastro de fumaça azul em volta do seu perfil. Observava-me em silêncio, o rosto oculto na contraluz da iluminação da rua (...) a figura assentiu de leve com a cabeça, uma saudação atrás da qual intui um sorriso que não podia ver. Quis responder, mas estava paralisado. A figura virou-se e a vi se afastar, mancando ligeiramente (...) Tinha lido uma descrição idêntica daquela cena em A Sombra do Vento (...) Na cena que eu acabara de presenciar, aquele estranho poderia ser qualquer noctívago, uma figura sem rosto ou identidade. No romance de Carax, aquele estranho era o diabo".

PARA VER E OUVIR: "LASCIA LA SPINA", DE HÄNDEL


É lindo de doer. Soprano: Cecilia Bartoli.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

FOTOGRAFIAS DE VINCENT BOUSSEREZ - "PLASTIC LIFE"




Um pouco mais da obra do talentoso Vincent Bousserez pode ser conferido no seu Flickr.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

UM GUIA DE ENGENHEIRO SOBRE GATOS


Qualquer dono de gato vai amar esse vídeo. Engraçado e amoroso.

SIMON´S CAT: "HOT SPOT"

terça-feira, 27 de outubro de 2009

PARA VER E OUVIR: SARAH VAUGHAN ("MY FUNNY VALENTINE")


É difícil imaginar que esta senhora já padecia com um câncer durante esta apresentação tão eletrizante.