O salto do seu sapato fazia barulho no chão de pedras em Chelsea, enquanto caminhávamos do táxi para aquele restaurante apertado, chamado Gato Vermelho. Nós dois, brincando de comemorar quase dois meses de namoro, em Nova York.
Ríamos, ébrios; ébrios de tudo menos de álcool. Ainda não havíamos bebido nada. A minha camisa amassada estava tomada pelo seu cheiro, a minha pele, meu pêlo, meu corpo, tudo tomado pelo seu corpo, pelo seu gosto, nós que só havíamos nos trancado o dia inteiro no hotel, alienados e indiferentes a todo o turismo que poderíamos ter feito naquele dia. Nova York sempre estaria ali, não havia motivo para pressa; então optamos por ficar na cama, sem roupa, vendo o dia sumir na janela do quarto.
Eu sugeri duas taças de vinho rosé; você, dois shots de tequila.
Tequila it is.
Você usava um vestido de seda, um pingente decorando a linha provocante do seu decote. O cabelo ondulado, negro, equilibrado sobre os ombros sem muito esforço, num desleixo calculado; sua pele branca, salpicada de sardas, cobrindo braços compridos que eu não conseguia parar de tocar. Seu perfume, seus olhos marcantes me enquadrando do outro lado da mesa. Nossos dedos enroscados, risos sem motivo, aquela ideia de termos todo o tempo do mundo, um mistério, uma descoberta, um amor de começo.
E naquele canto de mundo, olhando o seu rosto se iluminar sob as luzes caóticas da Rua 10 na janela, eu tive a certeza que estava apaixonado por você.
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