segunda-feira, 22 de junho de 2015

MOÇA DE CABELOS PRETOS FEITO A NOITE


dois anos eu te encontrei. Não gosto do verbo "conheci", ou qualquer similar; ele não representa, não tem significado. Eu não te conheci. Eu te achei.

E nem nas minhas fantasias mais selvagens, eu imaginaria que você iria mudar a minha vida para sempre. Tão drasticamente. E não estou falando daquele papo de "amor à primeira vista", ainda que - de fato - você tenha sequestrado o meu olhar para sempre, no instante em que eu te vi naquele dia aleatório que passamos hoje a celebrar como um feriado de independência.

É que você me deu tudo de volta. E coisas que eu nem imaginava querer. Você me consertou, colou meus pedaços, beijando as juntas frágeis, assoprando com gentileza, fazendo a cola secar. E me encheu com um amor saudável, real, uma amizade sem censuras, um corpo desejoso que parece preso ao meu como dois objetos magnetizados, uma vida, um futuro. 

No dia em que o seu pai morreu, nós passamos a noite inteira bebendo e vimos o dia amanhecer na janela, completamente anestesiados, falando frases sem nexo, fazendo juras estranhas. Você chorava, no meu colo, enquanto eu fazia carinho no seu cabelo desgrenhado; nós dois, ali, num mar de lençóis desfeitos e eu compreendi, com seu corpo em meus braços, que nós somos realmente criaturas desamparadas e a vida é realmente assustadora demais para se enfrentar sozinhos. 

Foi nesta noite em que eu entendi que já estava completamente apaixonado por você.

Minha moça de cabelos pretos feito a noite, de olhos gigantes e voz suave. De mãos delicadas e atos firmes. Minha garota de pele branca, alvejada de sardas feito constelações, de boca pequena, cheias de beijos com sabor de nostalgia, que me embriagam de ideias de "para sempre". 

Minha estrela gêmea, cujo brilho está entrelaçado ao meu, na tapeçaria de sonhos impossíveis, impensáveis, equilibrada sobre os nossos olhos infantis.

Minha mulher, minha amiga, minha amada; senhora do meu tempo, dona da minha fidelidade inquestionável, amor da minha vida.

Eu te celebro hoje, cada canto do seu corpo, cada centímetro da sua alma, cada pedaço do seu cheiro. Cada fio de cabelo. Mas não te prometo nada.

Porque te prometo tudo.

Um comentário:

Anônimo disse...

que lindo...