domingo, 30 de setembro de 2012

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

ILUSTRANDO

Foto de John Stezaker (sem título, 1976)

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A ARTE DE MONDO

 

"A ESSA HORA DOS MÁGICOS CANSAÇOS"

Se tu viesses ver-me...
Florbela Espanca

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

terça-feira, 25 de setembro de 2012

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

ILUSTRANDO

Van Gogh - "Café à noite"

sábado, 22 de setembro de 2012

O REINO EM NÓS

A cada novo filme, uma nova obra-prima. Parece exageiro, mas não é. A cada novo trabalho, Wes Anderson ("Viagem a Darjeeling") dá mais provas de que é um dos mais importantes cineastas da atualidade. Com um estilo próprio, inconfudível, que é perceptível desde o lettering até às cenas ordenadas de forma obsessiva e povoadas por personagens excêntricos e adoráveis, Anderson criou mais um lindo filme, de uma simplicidade absurda e de uma profundidade que chega a doer.

Ainda que a "alma" dos seus filmes esteja ali; a saber, famílias complexas, crianças maduras demais para suas idades, figuras paternas e maternas hesitantes, "Moonrise Kingdom" oferece uma nova paleta de cores ao caleidoscópio de Anderson. Aqui, o tema que pauta a história é a solidão de duas crianças. 

"Como uma criança pode sofrer com a solidão, com o 'não-pertencimento'?", poderíamos nos perguntar. Afinal, é uma reflexão tão "adulta", esta que permeia os jogos e a política da maturidade. A verdade é que crianças podem ser seres absurdamente solitários, isolados, diferentes, não-pertencentes, alienígenas, alheios e, portanto, seres que sofrem muito e que desejam fugir acima de qualquer coisa. Para onde? Pouco importa. Fugir.

Num acaso do destino, Sam (Jared Gilman) e Suzy (Kara Hayward) se encontram. Uma linda metáfora marca o encontro: uma peça de escola, retratando a arca de Noé, em que pares de animais são reunidos para fugir do dilúvio (como eu disse, eis aqui um filme lindo que dói).

Com pouco mais de 12 anos, os dois vivem uma linda história de amor, romântica, infantil, pautada mais pelo sonho que pela realidade. Sam é órfão, sem amigos e tem nas habilidades como escoteiro o seu trunfo. Suzy é uma menina melancólica, solitária, que não consegue se comunicar com seus pais, que a enxergam como "uma criança problema". 

Sam e Suzy, duas almas gêmeas, cunhadas na incompreensão da vida que são obrigados a viver

Vivendo numa pequenina cidade da Nova Inglaterra (EUA), na década de 60, os dois bolam um plano mirabolante. Um plano de fuga. Seriam só eles, somente eles, munidos pelo poder das suas correspondências e pelo desejo de viver uma vida longe das convenções das quais não conseguem fazer parte como "crianças normais", eles que realmente vivem em outro tempo. Um tempo só deles.

E é o que eles fazem. Atravessam a ilha a pé, alimentados por improvisos, literatura, música, devaneios sinceros e beijos inexperientes. Por danças sem pretensão, à beira da praia; sob a música improvisada num rádio de pilha, sem nada e com tudo, os seres mais felizes do planeta. Encontrados, enfim.

Por fim, mais um destes lindos filmes de Wes Anderson. Um de seus filmes "lindos de morrer", em que a beleza e doçura que aquecem o peito durante cada segundo. Um filme que me atravessou por completo e me deixou em estado meditativo.

Esse é meu mais novo melhor filme de todos os tempos. Seu impacto em mim ainda está sob análise. O que sei é que me provocou um redemoinho de memórias, lembranças quase-perdidas, sensações vivas, na pele, como se meus 11 anos tivessem acontecido ontem. Em outras palavras, voltei a ser um "garoto perdido", nas rápidas duas horas de projeção. Sem medo de exagerar, "Moonrise Kingdom" é uma maravilha, algo belo, algo que fica.

Sob a tenda de uma barraquinha amarela, na mais linda enseada do mundo, Sam e Suzy vivem mais que uma aventura inesquecível, mais que um romance de crianças. Eles fundam um reino.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

ILUSTRANDO

Picasso - "Mulher de braços cruzados"

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

PASSAGEIRA


Não é que ele não sentisse saudade dela. Ele sentia. É que ele havia se acostumado com o embaralhamento daquelas peças, daquelas cartas, daquele jogo que por fim ele havia entendido não ter uma solução. Um quebra-cabeças, um coração quebrado. Seguindo em frente.

Mas ela voltava de forma repentina, inesperada. Meio estrela cadente. Como se habitasse seu corpo, vinha em forma de lembrança desconexa, na montaria de um perfume anônimo, um cabelo, um vestido. Uma cena de filme, uma passagem de livro. Ela se manifestava nas entrelinhas, como lhe era contumaz, e então desaparecia feito mágica. 

E ele gostava disso. Desta estranha presença. Melhor, desta ausência agridoce, definitiva. Afinal, havia ficado muito claro [ou não havia?] que aquele tempo de inocências havia chegado ao fim. Aquela história narrada às pressas, a quatro mãos, a quatro pés, a duas bocas. 

Aquela história de silêncios e segredos, com coisa de sonho, de cheiro, de suor, riso, lágrima, mágoa. Coisa antiga. E com cheiro de tinta fresca. Aquele caleidoscópio de emoções e memórias que se entrelaçavam numa tapeçaria de ideias em que já não era tão claro o que havia sido verdade, o que era invenção, o que só era desejo. O que havia ficado, o que havia se perdido.

Ele gostava de tatear seu corpo em pensamentos que, a cada dia, perdiam o tom. Lembranças cada vez mais desbotadas, perdendo músculo, deixando de revirar borboletas de abdômem. Transformando-se em risos tímidos, destes que se manifestam na janela, provocados por um pôr-do-sol, por chuva, por música suave ao ouvido. As memórias que já não tinham mais tanta força para voltarem a superfície por conta própria. 

Aquelas lembranças fracas, submersas, submarinas.

Mas ele ainda sentia o cheiro da sua pele, o gosto do seu corpo, o suor das suas curvas temperando a sua língua. A voz sussurrando bobagens, as promessas que não se cumprem, a coleção de não ditos, não feitos, não vividos. 

Em madrugadas mais inspiradas, ele quase sentia o toque gentil das suas mãos em seu rosto, seu cabelo. Um carinho que o fazia despertar e desaparecia na penumbra, apagado sob o véu da realidade. E então apenas o silêncio. E as luzes da cidade salpicadas em janelas insones.

Mas era como se ela estivesse ainda ali e, com algum esforço, podia desenhar aquela silhueta ao seu lado na cama. Tocaria as suas costas nuas, despertaria seu corpo, como no tempo em que tudo parecia durar para sempre. 

Talvez fosse tristeza. Talvez fossem os cabelos prateando. O rosto, desenhado por ruas e avenidas ainda não batizadas. Talvez fosse culpa daquele mês febril. 

Os dois deram uma volta ao mundo, juntos. Um mundo, uma esquina. Possuíram uma ilha, hoje desabitada, flutuante, à deriva, em algum canto perdido, sem mapa, sem um caminho de volta. 

Só sobrou a saudade. Fugaz. Fugidia. Coisa de tempo, de vento. E que passa. 

Passageira.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

20 ANOS DE TARANTINO

Para os fãs [como eu], chega a notícia deste super estojo de colecionadores celebrando 20 anos de cinema de Quentin Tarantino. O box traz Pulp Fiction, Jackie Brown, Kill Bill I&II, Death Proof e Bastardos Inglórios, bem como edições especiais de Cães de Aluguel e True Romance. Há ainda 5 horas de materiais especiais. Sai em 19 de novembro e já está na minha wish list para o final do ano. Para aguardar por "Django Unchained" em alto estilo.

ILUSTRANDO

Joseph Minton - "A Ponte"

PARA VER E OUVIR: LA ROUX ("IN FOR THE KILL")

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A BELEZA DAS COISAS

 
 
 
 
 
 
 

ILUSTRANDO

Gustav Klimt - "Mada Primavesi, 1912"

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

PARA VER E OUVIR: CLAUDE DEBUSSY ("CLAIRE DE LUNE")


Never gets old.

BEFORE MIDNIGHT

Jesse e Celine se conhecem em 1995 ("Antes do Amanhecer") e se reencontram em 2004 ("Antes do Pôr-do-Sol"). Teria, afinal, Jesse "perdido o seu voo"? Aparentemente, vamos descobrir em breve, já que surgem [fortes] rumores sobre "Antes da Meia Noite", terceiro filme da série, tendo como roteiristas (e protagonistas) Ethan Hawke e Julie Delpy. Aparentemente, o filme já está pronto (direção de Richard Linklater) e teria sido silenciosamente filmado na grécia. Resta aguardar.

SILÊNCIO ENTRE OS OLHOS

Havia dias, aquelas vozes não calavam em sua cabeça. Os gemidos, os sussurros, os risos, os gritos. Era despertado com sustos, durante a madrugada. Virava a cabeça, ao atravessar a rua, em busca de quem o havia chamado, olhava em todas as direções, para entender de onde vinham aquelas palavras confusas, todas aprisionadas entre os seus olhos.
 
Em instantes breves, brevíssimos, as vozes calavam. Mas, como uma tortura planejada, voltavam antes mesmo que ele pudesse agradecer, em preces mudas, pelo silêncio. Sustos, gargalhadas, vozes que se sobrepunham, se atrapalhavam, como num idioma indecifrável. Ele chorava, em desespero, exausto, enlouquecendo. A cada hora. Cada vez mais.
 
Foi uma questão de semanas para que abandonasse, um a um, os projetos que mobilizavam a sua vida. Primeiro o trabalho, que o afastou sob licença médica. Depois sua namorada. Então sua família. Seus amigos. Seus hobbies. Começaram, rapidamente, as reclamações dos vizinhos, incomodados com o barulho ensurdecedor da televisão, aparelhos diversos e da música em seu pequeno apartamento. Ele simplesmente não sabia mais o que fazer e o barulho dos eletrodomésticos pareciam funcionar de forma paliativa.
 
As vozes surgiram de forma abrupta, inesperada. Numa madrugada qualquer, ele acordou com um grito. Com o coração em galope aflito, saltou da cama e correu para a janela. Depois para o corredor. Até perceber que aquele grito só estava alojado dentro da sua mente. O resto, a cidade, o apartamento, os vizinhos, estavam todos embebidos em profundo silêncio.
 
Falava. Falava alto. Consigo, de forma deconexa, caótica, confusa. Como se pudesse desviar sua própria atenção. Propunha temas sem lógica, frases sem ordem, histórias sem fim. Comentava sobre partidas de futebol e notícias do jornal. Misturava personagens de livros, filmes e desenhos animados. Imitava as vozes, relembrava fatos sem nexo cronológico. Comentava a meteorologia, o calor, o frio. Elogiava as flores e mulheres. Ria de forma esquizofrênica, com os olhos embaçados por lágrimas constantes.

Já não dormia mais.
 
Então começou a estapear o próprio rosto. Primeiro com golpes leves, com as mãos espalmadas ao redor da cabeça, como alguém que parece querer se manter acordado. Rapidamente, trocou as palmas por punhos fechados. Então passou a escolher objetos ou arremessava sua cabeça contra a parede. Feito um touro cego.

E em vão.
 
Um dia, em que o desespero calou por fim sua sanidade, buscou uma caixa de ferramentas de onde sacou um martelo. Velho, sujo e enferrujado, ele contemplava o objeto com mistura de medo e fascínio. Então um golpe, seco, rápido.

Ele observou o furo criado na parede. O gesso e o concreto fragmentados feito gelo ao redor de uma depressão do tamanho de uma moeda. Golpes seguidos sucessivos, em fúria, num balé colérico em que o martelo não poderia deixar nada em pé, nada inteiro. Via a casa ruir diante dos seus olhos, a mão e os dedos já em carne viva pelo excesso e a violência dos seus movimentos. Ao redor do seu corpo, um apartamento em ruínas, envolto numa tempestade de poeira, pano, vidro, gesso e madeira.
 
Arfava. De forma pesada. Como um animal.
 
O sol desenhava uma linha discreta, que cortava o apartamento de ponta a ponta, numa chuva de fragmentos que flutuavam ao longo do feixe amarelo, como uma constelação. E então as vozes. De volta, um coro de um milhão de pessoas, sufocadas dentro de sua cabeça, numa explosão de palavras que ele já nem tentava mais compreender.
 
Largou o martelo no chão num estrondo seco. Chorava, soluçava, com as mãos sobre o rosto, a roupa colada no corpo de suor e sujeira.

Então viu no chão um longo prego, comprido como uma agulha de costura. E entendeu, afinal, o que precisava fazer. Como ter de volta o silêncio entre os seus olhos.

Ajoelhou-se vagarosamente, o rosto úmido e vermelho de lágrimas e suor. Apanhou martelo e prego com mãos e lábios trêmulos, empunhando-os como artefatos cerimoniais.

Fechou os olhos, a ponta fria do prego roçando perigosamente o seu ouvido.
 
E calou, por fim, aquelas vozes.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

UMA TEMPESTADE SE APROXIMA

A parte final da saga de Lightning chega em 2013.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

ILUSTRANDO

Viktor Schramm - "A perfect scent"

domingo, 2 de setembro de 2012

sábado, 1 de setembro de 2012

PARA VER E OUVIR: UTADA HIKARU ("SIMPLE & CLEAN" E "SANCTUARY")



Meu coração [geek] também bate ao som das canções da Utada Hikaru.
"Regardless of warnings, the future doesn't scare me at all..."

O OLHAR DE KUBRICK