sábado, 5 de maio de 2012

A DOR E A NOBREZA DA VIDA QUE IMITA A ARTE

Roberto de Cesare, interpretado pelo sempre indefectível Ricardo Darín, é um homem de meia idade, solitário e rabugento. Ele vive num pequeno apartamento anexo à sua loja de ferramentas, em Buenos Aires. Ele é um homem de hábitos simples, repetitivos, que narram os dias iguais de sua vida amena, sem emoções nem grandes acontecimentos. Ele vive à sombra da saudade de sua mãe, que nunca conheceu, e de seu pai, que morreu quando ele tinha 19 anos. Os seus dias se resumem em abrir sua loja, contar os pregos que sempre vem em menos número do que o prometido, comer comida gordurosa, tomar uma cerveja e dormir às 23h. Sem exceção. Esta é a história de "Um conto chinês" (Un cuento chino), pequeno filme de Sebastián Borensztein e mais uma estrela nessa constelação de tesouros que é o cinema argentino.

Ricardo Darín dá vida a Roberto, o homem mais solitário do mundo

Mas Roberto tem um hábito curioso. Ele coleciona histórias absurdas, como a notícia que narra a guerra entre a Argentina e a Inglaterra; um casal de amantes que despenca de um precipício num carro, por conta de um freio de mão solto; ou a de um barbeiro que assassina seu cliente, com um susto, em função de um acidente de trânsito.

Roberto só não sabia que a história mais absurda de todas ainda estava por vir e que seria vivida por ele mesmo. Um belo dia, a solidão da sua vida é invadida por um imigrante chinês, Jun, que chega a Buenos Aires sem nenhum tostão e sem falar uma palavra de castelhano. Roberto e Jun se encontram, por acaso, e o argentino não consegue deixar o chinês à própria sorte. Decide ajudá-lo, por mais que isso signifique jogar sua rotina precisa pela janela.

"Há algo de nobreza e de dor em você", diz Mari, uma linda mulher que flerta despudoradamente com Roberto, que tenta ignorá-la. E o encontro entre Roberto e Jun é prova das sábias palavras da apaixonada vizinha. Mas parece que não há mais espaço para o amor na vida de Roberto. Isso é algo que se perdeu em algum lugar do passado e que ele parece não ter mais habilidade em recuperar.

Jun surge como um acaso na vida de Roberto. E a transforma para sempre

Após uma série de tentativas frustradas de dar um rumo à vida de Jun que estava em busca de seu tio, Roberto se dá por vencido e aceita - com grande sacrifício - a convivência que parece fazê-lo enlouquecer. Mas, rapidamente, Jun se mostra um companheiro útil e interessante, que, de uma forma ou de outra, facilita a vida de Roberto. Até os dois, enfim, entenderem os caminhos a serem seguidos.

Esta é uma linda história. Uma história absurda, improvável, impossível. Sobre um homem só, completamente só, que precisa ser encontrado por outro homem, que vem do outro lado do mundo, para dar um rumo à sua própria vida. Um conto chinês, sim, onde a vida decide imitar a arte e não o contrário. 

Absolutamente imperdível.

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