terça-feira, 30 de agosto de 2011

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

AMOR PLATÔNICO

Jessica Chastain. Repentino e arrebatador. Nunca havia ouvido falar desta ruiva de pele branca feito leite e olhar docemente melancólico até o, também arrebatador, "Árvore da Vida". Ariana (não podia ser diferente), há algo imediatamente hipnotizante a respeito de Jessica Chastain. Um magnetismo que as ruivas de Áries parecem ter, que nos atrai, como se fossem sereias, para o abismo ou para o paraíso. Irresistível. Paixão platônica à primeira vista.

EM ESTADO DE GRAÇA

"Tree of Life" (Árvore da Vida), novo filme de Terrence Malick é, como li numa excelente crítica, uma "experiência religiosa". É impossível descrevê-lo, como cinematografia. Este é um filme para ser sentido. É uma obra de sensações, de memórias, de lembranças e de saudades. Um convite discreto a reflexões tão absurdamente simples que se transformam magicamente em pensamos profundos, caóticos quase desconexos. Este é um filme de rara beleza. Melhor, é o filme mais lindo, mais tocante e mais comovente que vi em toda a minha vida.
A "Árvore da Vida" é uma experiência a ser sentida.
Brad Pitt, no papel de um pai austero nos anos 50 só da (mais) uma prova do seu talento como um dos mais importantes atores do nosso tempo. Ao seu lado, Jessica Chastain, que parece um anjo na tela, como a mãe dos três meninos que testemunhamos a infância. Num contraponto presente/passado, temos ainda Sean Penn, num lindo papel (silenciosíssimo) em que ele se pega relembrando essas doces memórias, a tanto tempo perdidas, de quando ele viveu em companhia de seus pais e irmãos. Cenas costuradas com uma maestria difícil de explicar, cenas que poderiam ser quadros, iluminadas como sonho e marcadas quase todo o tempo por música clássica. E, permeando tudo isso, reflexões sussurradas na tela, como um narrador em prece. Dúvidas, angústias, pensamentos perdidos sobre o amor, a raiva, a perda, a dor, a saudade, a existência de um Deus.
Brad Pitt, em mais uma prova inquestionável de talento que fazem dele um dos maiores atores do nosso tempo.

Não há nada, absolutamente nada como este filme. E talvez nunca haja. Parece pretensioso dizer isso, mas este não é um filme para todos. Longe disso, é um filme para quase ninguém. Um clube fechado, para pessoas que não temem pensar sobre a dor de existir. Um diálogo, logo no começo, nos propõe a pensar que a vida pode ser vivida por duas perspectivas: pela "natureza", que segue seu próprio rumo e desejo e pela "graça". Assim me deixou este tesouro de Terrence Malick: em estado de graça.

ILUSTRANDO

As impossíveis pinceladas do artista francês Francoise Nielly. Belo demais.


terça-feira, 16 de agosto de 2011

OS LADRÕES E O VERÃO INESQUECÍVEL

Num dia excepcionalmente quente e seco, eu e meus dois primos decidimos fazer uma aventura. Como um bando de foras-da-lei, amarramos nossas camisetas suadas e encardidas em torno da cabeça (mais como turbantes do que como máscaras de bandidos procurados) e fomos roubar picolés numa banca de jornais que vendia sorvetes perto da nossa quadra. Que sabíamos nós sobre a vida? Tínhamos todos não mais que 12 anos.

Chegando ao nosso destino, descobrimo-nos ambiciosos. De que serviam três sorvetes se podíamos roubar o freezer que ficava acomodado solitariamente ao lado da banca? Um breve parlamento de olhos foi mais do que suficiente. Juntamos nossas forças e arrastamos o pesado eletrodoméstico para o terreno atrás da casa do nosso avô, onde passávamos o verão.

Não havíamos notado, porém, que deixávamos não um simples rastro do crime, mas praticamente uma estrada aberta denunciando o nosso caminho delinquente como uma linha desenhada à mão. Uma trilha perfeita, ligando a banca de jornal à nossa casa. Mas que sabíamos nós? Estávamos cometendo um delito destinado aos destemidos.

Mal havíamos chegado em casa e o dono da banca - que havia nos seguido - já estava parado, como um colosso, observando o nosso crime com olhar inquisidor. Os três, meus primos e eu, viramos rapidamente, os sorvetes coloridos escorrendo pelos nossos dedos machucados pela tarefa de roubar sorvetes.

Uma poça furtacor se formava sob nossos pés, o grande freezer estacionado ao nosso lado, como um transatlântico. Eis que nosso avô surgiu na janela e se inteirou do acontecimento. Era um homem simples, de bom coração e poucas palavras. Naquele dia, ouvimos um sermão que ficaria na história e que até hoje é contado aos nossos filhos.

Diante do irremediável, nosso avô decidiu pagar pelos sorvetes e pelo freezer estragado, dando-nos como punição a obrigação de tomar cada um dos picolés ali contidos.

Foi aquele o melhor dia das nossas vidas.

PARA VER E OUVIR: SARA BAREILLES ("SONG FOR A SOLDIER")

domingo, 14 de agosto de 2011

MARATONA HITCHCOCK EM PALAVRAS BREVES: OS PÁSSAROS

"Os Pássaros" (The Birds - 1963): um encontro casual num petshop inocente em São Francisco. Melanie, típica loira fatal, brinca ser uma vendedora de pássaros para Mitch, um estranho galanteador que finge cair na conversa. Ele vai embora e ela decide segui-lo, para dar um par de periquitos ao seu flerte misterioso. Isso resulta numa aventura a uma cidade costeira, onde um bando de pássaros misteriosamente começa a atacar a população. Clássico mistério de Hitchcock em que um grupo de pássaros se aglutinando sobre uma linha de eletricidade de repente se transforma numa imagem perturbadora.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

OS GATOS AFRICANOS


Trailer oficial de "African Cats", novo filme da DisneyNature. E uma das coisas mais lindas que vi ultimamente.

PARA VER E OUVIR: VEGA 4 ("LIFE IS BEAUTIFUL")

domingo, 7 de agosto de 2011

ILUSTRANDO

Joseph Minton - "Distância"

PARA VER E OUVIR: COLDPLAY ("STRAWBERRY SWING")

O ARTISTA E A ILHA

No topo do morro, ao centro da ilha onde vivia, ele contemplou as estrelas numa noite de muita inspiração. O mar dançava, sem pressa, sobre a areia, entoando aquela melodia antiga e hipnótica que estimula o corpo a dormir. Ali, sob as estrelas, aquecido diante de uma pequenina fogueira, ele terminou o poema mais bonito já escrito pelo homem. As palavras, costuradas com maestria, pareciam formar um portal para um tempo mágico, para onde era impossível ir sem encher os olhos de lágrimas. E, assim, com os olhos encharcados, ele encerrou seu poema. Incrédulo com tamanha beleza. Adormeceu.

A vida era calma, naquela ilha sem nome, onde ele dividia as horas entre plantas, pequenas correntes de água doce, mangas, cocos e pássaros multicoloridos. Nunca havia visto um vestígio de qualquer expressão humana, e na verdade, já nem lembrava como havia parado ali. O esqueleto de uma velha embarcação, semi-enterrada na areia, e que servia como sua morada, oferecia algumas pistas. As flâmulas rasgadas que haviam sobrevivido, presas ao mastro de madeira morta, despertavam alguma familiaridade em seus olhos enrugados de náufrago.

Ele também gostava de desenhar. Usava pedaços de carvão, seiva de árvores, barro e elaborava painéis espalhados pela ilha como um museu a céu aberto. Num dia qualquer, porém, teve uma revelação. E correu a passos frenéticos para o grande paredão, numa clareira, para conjurar sua obra-prima. Ele sabia que aquela pedra era especial e só poderia ser usada para a pintura mais linda já feita pelas mãos do homem. Com movimentos rápidos e precisos, teceu traços, linhas, formas. Vermelhos, amarelos, azuis, verdes. Como mágica, surgiam paisagens e personagens que fariam Michelângelo enrubescer de vergonha. Nada, absolutamente nada na criação artística humana, seria capaz de se igualar a tamanha beleza estampada na grande pedra que se projetava no canto leste da ilha, como um prédio. Absorto, quase em transe, ele contemplou por horas a sua obra-prima. Comovido com sua própria superação.

Suas mãos, habilidosas, o ajudavam a construir um futuro naquela ilha solitária. Fabricava ferramentas, tecidos, instrumentos de sobrevivência variados e que o ajudavam a passar o tempo. Assim ele também improvisou uma flauta pequenina, que dedilhava com natural habilidade, engatilhando melodias e sons que se misturavam aos sons da floresta como se desde sempre estivessem entre os segredos daquelas matas. Imitava os pássaros, o barulho do vento e do mar. E sentado sob a sombra das árvores criava canções que pareciam narrar, num idioma estrangeiro, os acontecimentos de sua vida. Até que, após tantos anos de prática, ele se pegou soprando uma equação de notas que pareciam sair daquela flauta improvisada como se fossem a voz de Deus. E, novamente com lágrimas nos olhos, ele se enamorava daquele som que tomava seus ouvidos com uma força que parecia entorpecê-lo. Era aquela, sem dúvida, a mais linda melodia já composta pelo homem.

Sua arte, por fim, era a grande motivação para vencer os dias. Supreender-se, continuamente, com o que suas mãos eram capazes de gerar. As mais lindas canções, poesias e pinturas, que faziam daquela ilha abandonada o reduto mais puro e valioso da arte humana.

Até que ele percebeu que nada, absolutamente nada, entre tudo o que havia feito existia. A não ser ali, a não ser para os seus olhos e ouvidos solitários. Aquela arte era sua, somente. Ninguém jamais saberia da existência.

Ele não suportou o peso daquela revelação. E então, do alto da grande pedra, no canto leste da ilha, ele saltou para o infinito, como um pássaro, despencando rapidamente como um fruto maduro, que cai sozinho na mata, sem a percepção de ninguém. Um fruto, portanto, que jamais terá caído.

Como aquela arte. Que jamais terá existido.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

MARATONA HITCHCOCK EM PALAVRAS BREVES: REBECCA

"Rebecca, a mulher inesquecível" (Rebecca - 1940): um milionário encontra uma mulher submissa em Monte Carlo e se casa com ela como quem faz compras numa loja: escolhe e leva para casa. Misterioso, áspero, quase rude, ele leva a jovem para uma vida de princesa numa mansão na Inglaterra. Lá, porém, descobrimos que uma sombra misteriosa ronda cada cômodo e cada lembrança: Rebecca de Winters, a falecida esposa do milionário. A mulher inesquecível, um fantasma que parece estar vivo no imaginário dos empregados e do viúvo. Mas quem foi Rebecca? Porque ela é inesquecível? Mais um filme supreendente do mestre Hitchcock.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

MARATONA HITCHCOCK EM PALAVRAS BREVES: STRANGERS ON A TRAIN

"Pacto Sinistro" (Strangers on a train - 1951): 2 homens se conhecem casualmente numa viagem de trem. A partir deste encontro, descobrem partilhar um problema: um deseja se livrar de sua ex-mulher problemática. O outro, de seu pai. Eis que surge uma ideia: e se os dois resolvessem o problema um do outro, assassinando a mulher o pai? Isso criaria o crime perfeito, sem suspeita. Mas rapidamente as coisas fogem do controle e o que parecia um fácil desenlace se transforma numa caótica corrida pela inocência. Não é o melhor filme de Hitchcock, sem dúvidas, mas merece estar em qualquer maratona.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

MARATONA HITCHCOCK EM PALAVRAS BREVES: VERTIGO

"Um corpo que vai" (Vertigo - 1958): Homem luta contra um trauma que parece perseguú-lo como uma piada de mau gosto. Uma mulher misteriosa que vira a sua vida de ponta cabeça. Segredos, tramas, loucura, realidade, devaneio? Um filme surpreendente do primeiro ao último segundo. No Top 5 Hitchcock, sem esforço.

MARATONA HITCHCOCK EM PALAVRAS BREVES: ROPE

"Festim Diabólico" (Rope - 1948): 2 homens (seriam amantes?) decidem matar um rapaz exemplar pelo puro prazer de experimentar o poder de um homem sobre a vida de outro. Melhor, decidem esconder o corpo no meio da sala, sob o disfarce de uma mesa de festa. Super-homens infalíveis. Um filme sem cortes, meio teatro, meio revelação. Moderno demais até para os dias de hoje. Obrigatório.

MARATONA HITCHCOCK EM PALAVRAS BREVES: PSYCHO

"Psicose" (Psycho - 1960): Moça ambiciosa foge com o dinheiro do patrão, alheia ao perigo na esquina. Aterrorizante, supreendente e moderno. Impossível de refilmar. Um filme que brinca com a nossa cabeça o tempo todo; uma provocação constante e irresistível. Sinônimo de cinema.