sexta-feira, 4 de junho de 2010

QUALQUER COISA QUE FUNCIONE PARA VOCÊ

Woody Allen está de volta, no seu melhor estilo. Com um texto afiado, brilhante e uma comédia ácida, mal-humorada, incrédula, irônica e sem nenhum pudor em ofender e chocar. "Whatever Works" (estranhamente nacionalizado como "Tudo pode dar certo") é um típico filme deste, que é um dos diretores mais controversos, polêmicos, amados e odiados do mundo. Larry David interpreta Boris (no papel central do gênio incompreendido e hipocondríaco), um físico indicado ao Nobel e que vive como um eremita em Nova York, dividindo seu tempo com um punhado de amigos intelectuais, aulas de xadrez para "crianças burras", música clássica e noites sem sexo. Um homem atormentado, que acorda de madrugada em pânico por causa "do horror", canta parabéns enquanto lava as mãos (é o tempo exato para matar os germes) e acha que deveria haver "acampamentos para diretores de cinema" e "campos de concentração para filhos". No centro desta vida segura - e tipicamente woodyalleana - surge Melody, interpretada deliciosamente por Rachel Evan Woods. Ela é uma caipira, do Mississipi, que fugiu do lar protestante em busca de liberdade na Grande Maçã. Por uma casualidade, ela acaba indo morar com Boris e vira a sua vida de ponta cabeça. Quando tudo parece, enfim, revirado, eis que surge a sua mãe, Marietta (Patricia Clarkson), que acabou de ser largada pelo marido e vem para encontrar sua filha em Nova York. Como um vírus, a grande metrópole também exerce um poder fasciante na mãe religiosa e protetora, que descobre talentos e desejos que nem ela conhecia. No meio desta metamorfose de vidas, quando ninguém mais esperava nada, aparece o pai de Melody, John (Ed Bagley Jr.), um homem do interior, durão e filiado à Associação Nacional de Armas, que se arrependeu de ter largado a mãe e vive uma profunda crise existencial. Reviravoltas, reviravoltas e mais reviravoltas, tudo temperado com um dos melhores textos de Woody Allen nos últimos tempos. Já está entre os meus preferidos e é, para mim, o sucessor espiritual de "Desconstruindo Harry", meu favorito até hoje. Como o título sugere, há um pessimismo instantâneo a respeito da sua visão sobre a vida. Mas neste pessimismo há espaço, também, para a celebração da vida, do amor, e de "qualquer coisa que funcione para você". Genial, original, hilário, surreal, histérico, absurdo, ofensivo, perfeito. Imperdível.

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