A vida na terra chegou ao fim, por conta de uma hecatombe que a devastou de ponta a ponta, transformando o mundo - como o conhecemos - num grande abismo cinza e sem vida. Incêndios, inundações, pouco a pouco, tudo foi se desfazendo e levando pessoas a morrerem de fome e até mesmo a se matarem por conta do desespero. Mas ainda assim, o pior ainda estava por vir. O impensável: canibalismo. Neste cenário arrasado, um pai e um filho atravessam uma jornada perigosa e solitária pelos Estados Unidos, ao longo de uma estrada que levará ao Sul, onde supostamente há alguma chance de vida.
Cumplicidade na mais profunda solidão marcam o resvalamento em "A Estrada"
Baseado no best-seller de Cormac McCarthy, The Road ("A Estrada"), estrelado por Viggo Mortensen, Kodi Smit-McPhee e com participação especial de Charlize Theron, Robert Duvall e Guy Pearce, é um filme impactante e imperdível. Com a direção sensível e precisa de John Hillcoat, vemos na tela - de forma quase documental - a transformação do homem em animal e nesta triste metamorfose, a descoberta dos extremos a que a humanidade pode chegar em nome da sobrevivência.
O mundo é habitado por personagens anônimos, errantes, que vão de ponto a ponto, dia após dia, atravessando vales e florestas de sombras numa luta exaustiva pela sobrevivência. O pai e o filho, igualmente, não tem nomes. Não sabem do tempo, já esqueceram até quem são. Há uma triste cena em que o filho, atônito ao observar um espelho, diz para o pai, "vê, papai, como estamos magros...".
As atuações dos protagonistas são impressionantes. Viggo Mortensen tem algo mágico em seu olhar, ao mesmo tempo determinado e devastado, e é a força máxima que sustenta o filme do começo ao final e nos garante fôlego para aguentar a tensão durante uma série momentos de grande perigo.
A jornada é absurdamente melancólica e perigosa, neste "road movie pós-apocalíptico", mas isso não impede que o filme também presenteie a audiência com momentos adoráveis, como a descoberta do que pode ser a última lata de coca-cola ou uma escotilha que esconde centenas de mantimentos absolutamente impensáveis. Este é um filme que mostra sem pudor o extremo, o limite da vida quando um banho, um raro banho e uma lata de sopa são suficientes para se acreditar em mais um dia.
A jornada é absurdamente melancólica e perigosa, neste "road movie pós-apocalíptico", mas isso não impede que o filme também presenteie a audiência com momentos adoráveis, como a descoberta do que pode ser a última lata de coca-cola ou uma escotilha que esconde centenas de mantimentos absolutamente impensáveis. Este é um filme que mostra sem pudor o extremo, o limite da vida quando um banho, um raro banho e uma lata de sopa são suficientes para se acreditar em mais um dia.
Viggo Mortensen é pura luz num mundo que parece esquecido por Deus
Não há vida, na Estrada, porque ao longo de seus quilômetros infindáveis, só é possível enxergar o vazio, a maldade e o perigo. Essa história se dedica, de corpo e alma, a nos mostrar (como se fossemos acompanhantes) o trajeto de um homem dedicado em garantir que seu filho possa viver uma vida longe do caos. São dois mendigos, desorientados, caçados como animais e dividindo uma linda cumplicidade que só enxergaremos verdadeiramente nos instantes finais. Quando também descobrimos que, se há desepero e morte na Estrada, nela também pode habitar a esperança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário