quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O TEMPO & EU

Eu e o tempo. O tempo e eu. Relação de amor e ódio que, neste final de ano, comemora três décadas. O tempo passa, realmente, diante dos nossos olhos e de forma praticamente imperceptível. Faço jogos comigo mesmo, sem grande fundamento, que acredito poderem me ajudar a mensurar sua passagem silenciosa e devastadora, ainda que rica e repleta de memórias, lembranças, aprendizado e satisfação. Gosto de me olhar no espelho, ocasionalmente, e tentar enxergar o "eu" de 5 anos atrás. De 10 anos atrás. 15, 20. E é como se eu conseguisse, porque fica a ilusão de que "não mudei tanto assim", que "estou mais ou menos da mesma forma". E aí surgem os clichês, de que alguns fios de cabelo branco e um punhado de rugas discretas não deixam mentir. Mas é como se eu não as enxergasse e acreditasse, de fato, que não mudou muita coisa. Sou o mesmo, quase igual, apenas com anos a mais. E a ilusão até dura, surpreendentemente. Mas é inevitável constatar que tanto muda, que tanto mudou. Muitas vezes para melhor, outras para pior, mas sempre é um conjunto de ideias sobre uma vida que já ficou para trás. E isso é extremamente doloroso. Ainda que nada se perca, já que tudo o que "fica" é convertido em memória. Comos os discos que gravamos em fita, que gravamos em cd, que gravamos em dvd, que gravamos em bluray... Mas o original ficou para trás e tenho certeza que, na conversão contínua de acontecimentos reais em lembranças bluray, muito se perde. Caminhamos para frente, em marcha firme, sem a opção de retroceder. No máximo, olhar para trás. Dezembro é emblemático para mim, por razões óbvias. É o mês do desfecho, do balanço, de começar a contabilizar o ano. 2009, definitivamente, não foi um ano bom. Ele teve "seus momentos". O ano foi uma maratona, com breves e fugazes momentos de descanso. Sinto que andei quase todo o tempo na reserva, sem muita chance para abastecer, para carregar as baterias apropriadamente. Foi um ano em que senti na pele, como corte, a sensação do amadurecimento. Como se tivesse deixado parte de um "eu mais jovem" na estação. Como se eu tivesse dado adeus definitivo a algo de mim que já não poderia mais me acompanhar na jornada; provavelmente porque em breve - ou quem sabe neste exato momento - já esteja em companhia de um novo eu - ou parte dele - com quem seguirei a partir de agora. Catarse, devaneio, filosofia sem muito fundamento. É algo que vem e volta, geralmente nessa época do ano em que carimbamos "mais um". Fazia tempo que não sentava na ilustre companhia de meus botões, na minha solitária contemplação de janelas, enquanto observo o silêncio da rua, os carros que passam, os apartamentos acesos de maneira aleatória como um sorriso largo onde faltam alguns dentes. Talvez porque eu acabe sentindo tanta falta de mim mesmo - ou de algum eu que se foi e não voltará mais - acabo evitando socializar comigo mesmo para não constatar a inevitável passagem do tempo. Porque sinto saudade. São meus jogos sem grande resultado. Não dá para enganá-lo, não tem jeito. E acabo dançando conforme sua música e obedeço, como servo infiel, este meu mestre rigoroso. E, passada a estranheza de todos os finais de ano, continuamos a seguir juntos. O tempo e eu.

2 comentários:

Anônimo disse...

ai quanta metafisifica...não comes chocolates, pequeno...
Sua relção com o tempo é profunda e transcendente,sempre foi,desde muito cedo...
nada passou,tudo foi etapa,tudo foi degrau,tudo foi escada,pulo ,contemplação.
O que voce foi ,te faz o que voce é hoje..não é o tempo continuo???,e ficam as constantes...constantes nestas viagens no tempo.

lilian disse...

Nossa!desta vez vc se superou! este texto é soberbo! traz o seu traço melancolico incofundível.
obrigada por publicar.(feliz aniversario!)