domingo, 20 de setembro de 2009

O DESTINO DA PIPA AMARELA

A Pipa Amarela procurou pelo Vento, mas não conseguiu achá-lo em canto algum. "Onde você se escondeu hoje, meu doce amigo?", perguntou gentilmente. Mas era como se o Vento não estivesse ali. "Você me deixou?", continuou a Pipa Amarela. "Você sabe que sem você eu não posso ir a canto algum... por que não me leva com você pelos oceanos, pelos céus, desertos e florestas?". A Pipa Amarela estava desolada. "Não me acha mais interessante?", seguiu questionando. "Deixe-me voar com você e lhe prometo ser eternamente fiel", a Pipa Amarela implorava. Mas o Vento continuou ignorando-a friamente. "Você esqueceu das nossas promessas? Voaríamos juntos por reinos e países!", exclamou indignada. Mas o Vento não se interessava por suas palavras. "Parece-me, meu doce amigo, que você não me ama mais", concluiu, melancólica. "Percebo que minhas sedas e hastes não são suficientemente fortes para lhe cativar o coração", disse a Pipa Amarela, comovida.

E, então, o Vento decidiu olhar para ela.

"Minha doce, inocente, amiga. Jamais acredite nas promessas do Vento. O destino da pipa é colorir os céus e adornar os dias com sua pele delicada e sua dança comportada. Você não deve se atrever em aventurar-se, mas sim continuar a fazer cócegas nas nuvens e divertir as crianças. Ontem, desejamos ser amantes dedicados. Mas, hoje, quero correr só. Quero voar, irresponsável, pelas bandeiras e saias das moças. Quero revirar jornais, folhas secas e desfazer cabelos. Ontem voamos juntos. Hoje, quem sabe, voarei pelas pastagens africanas, pois não tenho lar nem jamais terei. Mas voarei só. Guardo em mim apenas desejos e caminhos. Sou efêmero. Não poderei amá-la. Não mais. E devo partir, agora". E o Vento se foi. E a Pipa Amarela o observou ir embora, com lágrimas nos olhos, enquanto mantinha sua dança de fada infeliz.

E, sozinha, chorou, chorou e chorou...

E as suas lágrimas deixaram-na ensopada e pesada como uma pedra...

Até que ela não mais conseguiu mais flutuar... e caiu, rapidamente, para o seu túmulo de pipa, no chão.

Ao chegar no solo, foi rapidamente envolvida pela Grama, que a observava pender do céu. A Grama abraçou-a carinhosamente, enquanto a Pipa Amarela parecia se desfazer no solo.

"Eu sempre te observei, aqui de baixo. Mas você não passava de um sonho impossível para mim, sempre lá no alto, voando com o Vento. Agora que você está aqui, comigo, te amarei para sempre, minha amiga querida, porque seremos um só com a terra", sussurrou a Grama nos ouvidos da Pipa Amarela.

E a Pipa Amarela sorriu. Ela estava em casa.

Um comentário:

fatima disse...

este texto me fez chorar, e na minha imaginação vc o escreveu para mim...
''eu sou efemero'' e voluvel,o vento é voluvel,anima diferentes coisas em diferentes lugares,tudo parece diverti-lo,pricipalmente pipas multi coloridas,azuis ,roxas,
magentas e fucsias.
´pobre pipa amarela,pensou-se unica,
pensou-se em vão.