Ele não sabia, mas era o último homem na lua. Ou talvez soubesse e fingisse, para si mesmo, não ser. Entretido com o brilho das estrelas, cometas rasantes, chão de areia fina cinzenta e o negro infinito dos dias que são sempre noite, ele se fazia crer estar envolto numa sinfonia de sensações e idéias confortantes. Confortáveis. Mas eis que ele era o último homem na lua. Fato inquestionável. Refém de suas próprias idéias, pouco a pouco ele começava a esquecer da própria voz. Os pensamentos ecoavam alto demais em sua cabeça para serem transformados em som. Noite após noite, dormia embalado ao som do silêncio. Quando insone, debruçava-se sobre um morro pequenino, para ver a luz do sol entrecortar as planícies brancas, homogêneas, áridas. E caminhava, sem direção, como se procurando algo sem saber ao certo o quê. Sentia-se só. Muito só. E já nem lembrava mais como havia chegado lá, desde quando, e por que motivo. Sonhava com chuva, barulho de mar e cheiro de pão assado. E chorava sentado, como se brincando de ser criança novamente. Gritava nomes ao acaso, nos vales, enamorando a possibilidade de alguém responder. Julgava saber a localização de cada uma das estrelas e até havia dado nomes a elas. Constanza, Gueixa, Escarlate. Chocolate, Lápis, Ameixa. E fazia jogos e apostas consigo mesmo, das quais sempre saia vencedor. E julgava-se rico, apesar de não possuir quase nada. E belo, mesmo sem nunca mais ter visto seu reflexo em algum lugar. Pouco a pouco, também começava a esquecer do seu rosto. Até que um belo dia, para sua surpresa, viu pousar uma nave, alguns metros de onde morava. De lá, desceram astronautas, portando veículos e instrumentos de aventuras espaciais. Era aquela a oportunidade que ele havia esperado tanto tempo. Mas ele não conseguiu conter seu medo e se escondeu. E observou a navezinha partir, lentamente, até se perder na sombra do horizonte rumo à gigantesca lua verde e azul que orbitava seu planeta. E ele voltou, então, a ser o último homem na lua.
quinta-feira, 23 de julho de 2009
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