O maravilhoso filme "Albergue Espanhol" (L´auberge espagnole), de Cédric Klapish, é uma daquelas histórias deliciosas que nos convidam a flertar com o impossível. Ao ser uma metáfora competente da Europa, um micro-continente, de múltiplas culturas, idiomas e personalidades, o filme nos propõe a idéia de que é possível viver de forma mais simples, mais desapegada, descomplicando a existência que - em teoria - deve ser fundamentada em empregos enfadonhos e pagamento de contas. O "Albergue Espanhol" é, essencialmente, uma fuga de tudo. Primeiro, fuga do protagonista, Xavier Rousseau, que sente a urgência de deixar Paris em busca de expandir seus horizontes. Segundo, fuga para nós, expectadores exaustos da mediocridade das nossas vidas banais, que nos sentimos parte daquele grupo de pessoas, de vida livre e boêmia, no coração pulsante de Barcelona. Barcelona, em si, é outra metáfora: calor, sangue, paixão, sol, para uma vida que precisa vibrar e não ser consumida pelo frio das insuportáveis responsabilidades da vida adulta. Acompanhamos, quase de forma voyerista, jovens estudantes de todos os cantos, com suas crises, dúvidas, inquietações e alegrias, enquanto festejam juntos a satisfação de serem justamente jovens, de estarem vivos, e de terem todo o tempo do mundo em suas mãos. Tornamo-nos íntimos. De tudo. E naturalmente nos comovem a despedida, o avião de retorno, o fim da festa que sabemos que não pode ser para sempre. E assim encaramos o retorno à realidade, que é lúgubre, que está distante da felicidade vivida, dos amigos que passam a ser memórias e fotografias. O reencontro de Xavier Rousseau com Paris tem um desfecho que nos é quase previsível. Sentimos absoluta cumplicidade com sua reação ao retorno e nos pegamos, mais uma vez, flertando com o impossível.
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