quinta-feira, 26 de março de 2009

(QU)EM BUSCA DO CONTO DE FADAS(?)

Não sei ao certo o quanto busco - ou se já me cansei - do conto de fadas. A primeira pergunta que me faço é: existe? é viável? A verdade é que não há (mais) contos de fadas, na medida em que não há príncipes nem princesas, castelos ou dragões. Os contos permanecem nos livros, desenhos, filmes e histórias de ninar, onde são intocados, onde toda a mágica é possível, onde não há a carga absurda de expectativas (e decepções), inseguranças, trabalho frustrante e contas a pagar. Reis pagam aluguel? Princesas lavam roupa? Príncipes chegam exaustos do trabalho? Castelos se limpam sozinhos? Carruagens andam sem gasolina? É por essa e tantas razões que estou cada vez mais certo de que ninguém deve correr em busca dos contos de fadas, porque eles não estão em canto algum para serem achados. Eles existem, apenas, nos corredores dourados do nosso imaginário, seduzindo maliciosamente os nossos desejos mais sinceros sobre a vida real. Não é que me tornei um pessimista - acho nem ser capaz de sê-lo - mas aqui, no mundo de asfalto tão longe dos bosques, tudo funciona de forma diferente. Como outra dimensão. Uma realidade meio crua e insossa, onde a Branca de Neve seria considerada promíscua; a Bela Adormecida, preguiçosa; Cinderela seria uma oportunista e Alice, uma viciada em alucinógenos. A Bela não iria se apaixonar pela Fera, da lâmpada só iria sair azeite e Chapeuzinho Vermelho estaria ocupada demais para visitar sua avó. João veria crescer uma tímida muda de feijão e Peter Pan, por fim, estaria perdendo noites de sono sem saber como fechar o mês fora do vermelho. Longe de tantas páginas coloridas e imagens encantadoras, a coisa mais sensata a se fazer é viver com o desprendimento de espírito e a serenidade de tentar a "vida possível", como ela realmente é: com toda a beleza e toda feiúra, com alegrias fugazes e rotina massante. Com todas as falhas perdoáveis entre raras qualidades. Com a consciência de que somos sós e, portanto, a solidão deve ser abraçada e não combatida. Com a certeza de que os dias serão parecidos mesmo e que caberá a cada um de nós sobreviver a costura entre eles, que podemos procurar fazer de forma um pouco mais colorida. Sem tanto "era uma vez", mas, sim, "tente outra vez".

Um comentário:

Fred disse...

Isto mesmo ''tente outra vez em lugar de era uma vez...''
A esperança é o ultimo ''presente''
a sair da caixa de Pandora;penso
que não é uma coisa boa,pois´por ter esperança de encontrar um mundo ideal,não tomamos atitudes objetivas para terminar algo,como um relacionamento ruim pr ex.