Às vezes me pergunto, silenciosamente, o que há sob o peso das lágrimas que vez ou outra despencam dos cantos dos seus olhos. Porque sei que há tanto ali, escondido, disfarçado e, ao mesmo tempo, escancarado e desnudado como se você fosse inquisidora implacável de si mesma. Inquisidora do pecado de existir. São cicatrizes invisíveis que você não gostaria de ter mas que tampouco se incomoda em mostrar. Porque elas também são suas medalhas e condecorações. Pontos no mapa para você se tornar quem é. Mas sei que há um mundo por detrás do peso das suas lágrimas. Um mundo escondido, um mundo secreto, o seu país pessoal, para onde todas as fugas são possíveis. E fico com vontade de ir até lá te visitar, mas não conheço o caminho - acho que acerto chegar até a fronteira. Se eu conseguisse te encontrar, para além da fronteira, eu te diria que não há nada de errado com as suas lágrimas mais sinceras, que parecem fazer chover sobre você como no dia mais nublado do mundo. Como se o tempo estivesse fechado, os ponteiros do relógio parados e você presa ao chão, como uma árvore pensante. E é por isso que elas despencam, as suas lágrimas, como se fossem de chumbo. Lá eu te diria, sem medo, que você não se preocupasse tanto com tantas engrenagens desconexas, com tantas peças fora do lugar. Eu te diria para deixar chover. Porque a mais negra de todas as chuvas não perde seu efeito restaurador, de limpeza e de transição. Porque nem a pior de todas as chuvas é capaz de esconder o arco-íris que desponta, destemidamente, por detrás da tempestade. Era isso que eu te diria.
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
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