quinta-feira, 29 de novembro de 2012

EVERY LEAF

"Ajudem-se.
Amem a todos.
Cada folha.
Cada raio de luz.
Perdoem".

"Árvore da Vida" (Tree of Life"). Nada menos que obra-prima.

O SONHO

Ele acordou mais cedo que o de costume. Sentou-se de forma preguiçosa à janela, observando a chuva que caia igualmente preguiçosa lá fora, lavando as paredes do prédio, fazendo poças na calçada onde algumas crianças começavam a brincar.

Pêlos do seu braço arrepiados no compasso do seu coração e do café que fumegava em suas mãos, boca e garganta. É que ele pensava nela.

"Por favor, não me faça tão feliz", aqueles olhos eloquentes, aquelas bocas sem espaço para despedidas. Ele pensava. "Por favor, não me faça tão feliz".

Caminhou descalço para o quarto, os pés gelados sobre o assoalho. Aquele barulho gris ao seu redor, aquela chuva, aquela manhã emocionada. Aquela tempestade que abraçava o seu apartamento com algo de dor, algo de violência, algo adequado.

Algo.

Sentou sobre a cama, aquele misto de ansiedade e frio na barriga, como quem espera por um primeiro beijo. Abriu a caixa de fotografias com delicadeza. Memórias que já não se costuravam com tanta força. Ele já não sabia a cadência correta daqueles eventos, a cronologia, o que vinha antes, o que vinha depois. Cabelos mais curtos e mais compridos. Roupas, modas, cidades. Risos, beijos, restaurantes. Animais e monumentos. Ele e ela. Aquele passado breve. Aquele tempo sem fim.

Aquele tempo sem volta.

"Por favor, por favor, não me faça tão feliz".

Remexia as fotos entre os dedos, como cartas de baralho. Sorria. Espalhava-as sobre a cama desfeita como tarô. Aquele vento, aquela maresia, aquelas flores, de repente o quarto ganhava sensações salinas e de floresta, de calor e de frio. É que ele pensava nela.

Quando ele pensava nela. Como pensava.

Gotas tímidas despencavam dos cantos de olhos e janelas. Uma a uma, compondo manchas pequeninas, algo de pintura abstrata. Caindo, em sequência, um bombardeio melancólico de quem viaja ao passado. Ao passado bom. Tocava com as pontas dos dedos o seu corpo, aquela saudade, aquele vazio, aquela ausência, aquela distância, aquela escolha.

Já não se lembrava ao certo como tudo aquilo havia começado ou os eventos que culminaram no fim. Lembrava do meio. Da essência, do melhor. Da antecipação. Havia um cheiro, um sabor, um gosto de suor e saliva que ele ainda conseguia resgatar em algum canto não esquecido de sua língua. Conseguia sentir a sua pele, seus contornos, suas reentrâncias, ela estava ali, naquele emaranhado de lençóis solitários. Ela ainda estava ali, em algum canto.

Estaria sempre.

Recolheu as fotos, os ingressos de cinema, os cartões amassados, aqueles fragmentos de lembranças, aquela história contada como um caleidoscópio de vinho e veneno. Depositou tudo na caixa, como quem arruma um brinquedo. E guardou-a de volta no armário, entre agasalhos e sapatos, onde ela sempre ficava. O vento gelado que costurava uma trajetória entre a rua e o seu rosto o fez buscar um casaco para aquecer o seu corpo.

"Porque eu não saberia como viver sem você".

E seguiu para o começo de mais um dia, fechando a porta atrás de si de olhos fechados.

Um suspiro, uma prece, um sorriso.

E se fez acreditar, como sempre fazia, que tudo aquilo havia sido apenas um sonho.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

"JEITOS ESTÚPIDOS DE MORRER"


Campanha publicitária (genial) da Companhia Australiana de Trens para estimular a prudência nas estações.

PARA VER E OUVIR: THE CIVIL WARS ("POISON & WINE")

DA SÉRIE "NÃO PRECISO MAS QUERO"

Box com a discografia do John Mayer, à venda em Dezembro no Brasil.

UMA CERTA ESCURIDÃO É NECESSÁRIA


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

"DESTE PLANALTO CENTRAL...

..., desta solidão que em breve se transformará no cérebro das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada, com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino...". (Juscelino Kubitschek).

Que saudade desta alvorada, que saudade desta solidão, que saudade de Brasília.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

AL COYOTE

AL COYOTE
Jorge Luis Borges

Durante siglos la infinita arena
De los muchos desiertos ha sufrido
Tus pasos numerosos y tu aullido
De gris chacal o de insaciada hiena.

Durante siglos? Miento. Esta furtiva
Substancia, el tiempo, no te alcanza, lobo;
Tuyo es el puro ser, tuyo el arrobo,
Nuestra, la torpe vida sucesiva.

Fuiste un ladrido casi imaginario
En el confín de arena de Arizona
Donde todo es confín, donde se encona

Tu perdido ladrido solitario.
Símbolo de una noche que fue mía,
Sea tu vago espejo esta elegía.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

ILUSTRANDO

Henri Matisse - "Harmonia em vermelho, 1908"

domingo, 11 de novembro de 2012

sábado, 10 de novembro de 2012

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

QUE HAJA COMÉRCIO ENTRE NÓS

A PACT
Ezra Pound

I make a pact with you, Walt Whitman --

I have detested you long enough.
I come to you as a grown  child
Who has had a pig-headed father;
I am old enough now to make friends.
It was you that broke the new wood,
Now is a time for carving.
We have one sap and one root --
Let there be commerce between us.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

terça-feira, 6 de novembro de 2012

ILUSTRANDO

Edvard Munch, "Jovem à beira da praia (1896)"

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

domingo, 4 de novembro de 2012

sábado, 3 de novembro de 2012

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

E SE O SEU PIOR INIMIGO... FOSSE VOCÊ MESMO?


Difícil tentar explicar "Looper" (Assassinos do Futuro). É melhor assistir, é melhor que cada um tenha suas próprias ideias e interpretações. Há muito aqui, acredite, muito. Há algo de noir, algo de Blade Runner, algo de Gattaca. Estrelam Bruce Willis, Joseph Gordon-Levitt e Emily Blunt, com roteiro e direção de Rian Johnson.

Um futuro negro aguarda a humanidade, no ano de 2074, quando a máfia esconde os seus assassinatos ao enviar os corpos ao passado para serem dispensados. Aí entram os "Loopers", profissionais no "presente" que aguardam a chegada destas vítimas, para matá-las e sumir com seus rastros - afinal, elas não existem ainda. Mas, num belo dia, a própria versão mais velha do assassino vem para ser assassinada por sua versão mais jovem e mais, decide mudar o passado e reescrever o futuro numa intrincada história de vingança.

Joseph Gordon-Levitt (numa maquiagem perfeita, para deixá-lo mais parecido com sua verão mais velha, Bruce Willis) vive Joe, um matador de aluguel do passado - um "looper"

O que esperar deste encontro metafísico (e real) em que a mesma pessoa é caça e caçador? Como se desenrolaria a teia de eventos futuros, já que tudo está completamente embaralhado? Quem está certo? Quem é o vilão e quem é a vítima? Um paradigma absurdo, que chega a doer na cabeça. Um filme intenso, um roteiro fenomenal, uma história que merece ser vista. Simplesmente imperdível.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

ILUSTRANDO


Andy Warhol - "Mickey Mouse"