sexta-feira, 20 de agosto de 2010
"TODA VELHICE É UMA ESPÉCIE DE SAUDADE", DE JOSÉ REZENDE JR.
Microcontos de José Rezende Jr. de uma beleza que chega a doer:
"A mulher que se despia para nós penteava nossos cabelos, procurava sujo atrás das orelhas, conferia nossas febres. Feito mãe, só que pelada."
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"Chamávamos o doido pelo apelido que mais odiava. Ele respondia com pedras pontiagudas e pontaria certeira. Mas acho que o feríamos mais."
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"Na missa, o sermão nos ameaçava com castigos atrozes. No banheiro, os gozos ardiam como se expelíssemos a própria lava do inferno."
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"Matavam com gosto cobras e escorpiões. Eu morria de dó: de quem é a culpa, quando já nascemos com o veneno no corpo?"
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"Meu pai escreveu num caderno o próprio nome e os nomes de cada filho. Continuou lendo, mesmo depois que as palavras perderam o sentido."
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"Todos os anos o mesmo circo. A mesma menina trapezista, peitinhos sempre em botão, feito trapézios suspensos no tempo. Só nós envelhecíamos."
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