quinta-feira, 4 de março de 2010

O MENINO QUE SONHAVA EM SER REI


Contam lendas muito antigas, que soberanos do Império Persa mantinham contatos com entidades demoníacas, chamadas Djinns (de onde se origina a palavra "gênio", hoje tão comumente utilizada em histórias infantis).

Segundo as histórias, passadas oralmente de pai para filho ao longo da poeira dos séculos, esses Djinns, ou "Gênios" tinham o poder de garantir aos seus amos a realização de todo o tipo de sonho e desejo.

"Ouro!", e então se erguiam pilhas sem fim de tesouro. "Armas!", e fileiras de homens armados, cavalos e carruagens se encontravam prontos para guerra. "Mulheres!", e as mais belas dançarinas surgiam como mágica, por entre colunas de fumaça azul.

Estas lendas contam, ainda, que uma pedra mágica havia sido criada por um Djinn muito poderoso e, de todos, talvez a entidade mais maléfica: uma pedra pequenina que garantiria ao seu detentor poder e glória sem limites; um presente máximo ao soberano da Pérsia, que desejava viver o céu na terra, com posses, exércitos e riquezas.

A pedra, porém, era amaldiçoada como todos os desejos realizados por um Djinn. Tinha um preço a ser pago: traria conquista e destruição a quem quer que colocasse as mãos nela, além do rei. Mas não demorou até que todos esquecessem disso.

E os séculos foram passando. A história virou lenda e a lenda virou mito. E a pedra, pequenina e insignificante como um pedaço de carvão, acabou chegado à Europa por meio de bandidos que se infiltraram nas missões das Cruzadas ao oriente.

No seu caminho, porém, teria ajudado na tomada de Jerusalém e afundado navios carregados de tesouro roubado. Homens teriam sido assassinados após fabulosas vitórias no jogo. Reis depostos após anos de extravagância. Ascensão e queda de impérios, revoluções e pragas.

E de mão em mão, trazendo fortuna e desgraça aos seus inúmeros donos, a pedra acabou sendo jogada fora pelo seu último detentor, cansado de tragédias. “Maldita seja!”. Perdida, acabou se misturando com pedras normais, no chão, sem valor. E, assim, ficou esquecida, como todas as pedras são.

Mas conta uma outra lenda, esta bem mais recente, que um menino muito pobre e infeliz, numa obscura cidadezinha de fronteira, em mais uma de suas inúmeras andanças sem destino pelo bosque, teria encontrado esta pedrinha. Ele, ainda de calças curtas, pés sujos de lama, mal vestido, melancólico e solitário, encontrava companhia da natureza nas suas caminhadas, enquanto se perdia em seus próprios devaneios e ilusões sobre falanges alexandrinas e canhões da Áustria-Hungria.

Sem posse outra qualquer, além de alguns almanaques de guerra e soldados de chumbo, resolveu ficar com a pedrinha e guardá-la no bolso como um amuleto para trazer sorte à sua vida e sua família.

Mas aquela não era uma pedra qualquer e tampouco era aquele um menino qualquer.

Acabara de fazer doze anos. "Será meu presente de aniversário", pensou o insignificante Adolf, guardando a pedrinha no bolso enquanto um vento forte e sombrio corria por entre as árvores, ao seu redor.

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