Por onde começar para falar de "Onde vivem os monstros" (Where the wild things are)? O novo filme de Spike Jonze, baseado no livro homônimo de Maurice Sendak, é tocante, abissalmente melancólico, absurdamente nostálgico, trará sorrisos e tecerá nós nas gargantas de todos que tiveram infância. E quando digo "infância", não me refiro aos dias de hoje. Quero dizer a infância de devaneios, corridas nas ruas, árvores escaladas, brigas, aventuras e joelhos ralados. Porque é sobre ESTA infância que "Onde vivem os monstros" fala. E para quem viveu ESTA infância, apenas posso dizer que estejam preparados para um filme arrebatador. A história conta um breve momento na vida de Max, um garotinho solitário que, ao ser colocado de castigo, imagina um mundo secreto onde ele é coroado rei de um pequeno povoado de monstros gigantes. Vestindo um pijama de lobo e usando coroa e cetro, Max atravessa uma jornada de descobertas e profundas reflexões.
"Dentro de cada um de nós há uma criatura selvagem"
O filme, de poucos diálogos e trilha sonora de sonho (assinada por Karen O.) é praticamente sussurrado na tela, como uma lembrança que nem sabíamos estar guardada em algum canto da mente. Mas não se enganem: apesar da premissa, "Onde vivem os monstros" não é um filme bobo. Não é comercial nem acessível como Harry Potter ou algo do gênero. Eu diria até que não é para crianças, apesar de ser inspirado num dos clássicos da literatura infantil norte-americana. Spike Jonze construiu uma caixa de lembranças e surpresas que, nas estripulias e malcriações do jovem Max, também fazem homenagem ao menino que ele mesmo foi um dia. "Onde vivem os monstros" é um dos filmes mais incríveis - e improváveis - que tive a felicidade de ver. Não há nada aqui de tradicional, não há lugar comum e, em verdade, quase não há zonas de segurança. É um filme de detalhes e de segredos. E que não tem nenhum pudor em transitar pela melancolia, pela solidão e tampouco tem receio em nos causar tristeza. É como se Spike Jonze simplesmente quisesse partilhar algo especial, belo e triste, e quem se interessar que esteja disposto a saborear o doce e o amargo no trajeto.
Um pequenino filme de detalhes e segredos
Este não é um filme simples, apesar de sua simplicidade evidente. Não é óbvio, não é fácil e definitivamente não agradará a todos. Em resumo, é um sonho breve, de poucos tons e poucas cores. Uma jornada de desbravamento, na qual Max se descobre perdendo seus medos na medida em que também perde um pouco de sua inocência. Um filme para se assistir sozinho. Em verdade, acho que, até agora, não entendi ao certo o quanto "Onde vivem os monstros" me atravessou por inteiro e me comoveu. Posso dizer, com certeza, que ele me proporcionou silêncios e sorrisos de sabores especiais e me permitiu passar alguns bons minutos na companhia do garotinho que um dia eu também fui. Um menino entretido demais com suas aventuras e andanças, capas e espadas, monstros e heróis. É dessa matéria misteriosa e mágica que esse filme precioso é feito. Inesquecível.
Um comentário:
SUAS RESENHAS TORNAM-SE A CADA FILME,
MAIS POETICAS,MAIS ETEREAS ,IMATERIAIS..SENTI-ME AMASSANDO NUVENS,SENTI UM SOPRO DE PROMESSAS
DE SEGREDOS E SONHOS,POIS APESAR DE TEMER A MELANCOLIA,POR SUA DELICADA SUGESTÃO,VEREI O FILME.
Postar um comentário