Conta uma lenda Sufi que Nasrudin chegou a uma pequena aldeia e todos imediatamente julgaram-no como um velho sábio. Não demorou muito até que uma multidão se aproximou do velho, aguardando ansiosamente por palavras de sabedoria e iluminação. "Mas quem havia lhes dito que Nasrudin era um sábio?", pensou. Para não frustrar seus expectadores, no entanto, Nasrudin placidamente abriu seus braços e disse aos presentes:
"Suponho que, se estão aqui, já sabem o que tenho a dizer".
Eis que a turba respondeu: "Não! O que você tem a nos dizer? Não sabemos, diga-nos, por favor!".
E Nasrudin continua: "Se vieram até aqui sem saber o que venho a lhes dizer, então não estão prontos para escutar". Dito isto, o velho se levanta e vai embora, deixando todos atônitos. Alguns já julgavam-no louco, quando alguém gritou, maravilhado:
"Ele tem toda a razão! Como podemos nos atrever a vir aqui se sequer sabemos o que viemos escutar? Somos estúpidos e perdemos uma chance maravilhosa. Quanta iluminação, quanta sabedoria! Vamos pedir ao velho que nos dê uma nova chance!"
E alguns homens correram em busca de Nasrudin e suplicaram-no que voltasse e ensinasse, novamente, seus conhecimentos. Após grande insistência, o velho retorna à aldeia e encontra uma multidão ainda maior na praça. E diz, assim que chega:
"Suponho que já sabem o que tenho a lhes dizer".
Lição aprendida, a multidão responde, quase em coro: "Sabemos, claro. Por isso viemos".
Ao ouvir a resposta, Nasrudin balança a cabeça e lhes diz: "Bom, se já sabem o que vim lhes dizer, não vejo necessidade alguma de repetí-lo". E, novamente, abandona as pessoas e vai embora. A platéia se cala em profundo silêncio até que um começa a gritar:
"Maravilhoso! Iluminado! Precisamos ouvi-lo mais, desejamos mais de sua sabedoria!"
Outro grupo de homens corre, novamente, em busca de Nasrudin e, de joelhos, imploram ao velho que volte. Nasrudin consente e é recebido como um rei pela aglomeração de pessoas sedentas por seu conhecimento. O velho se volta para eles e diz:
"Suponho que já sabem o que vim dizer".
E então, um representante responde com confiança: "Alguns sim, mestre, mas outros não". E a praça é tomada por grande silêncio e expectativa. Todos observam Nasrudin até que ele responde, serenamente:
"Neste caso, os que sabem que contem aos que não sabem". E, dito isso, Nasrudin foi embora.