Bill Murray vestido de Elvis apresentando o trio é too cool for school...
segunda-feira, 25 de julho de 2011
sábado, 23 de julho de 2011
O PRISIONEIRO
Naquele espaço delimitado, nem muito grande nem muito pequeno, ele circulava com passos curtos para que não fizesse mais barulho que o necessário. Fazia suas refeições e cumpria a agenda fisiológica com o cuidado minucioso para que não causasse transtornos mais do que o necessário. Deitado, sobre seu fino colchão, num tablado onde esticava os seus ossos, tentava refazer mentalmente todos os passos que o haviam levado até ali. Em vão. Já não lembrava mais. Aquela prisão era o que havia restado, de onde ele contemplava os sons e as cores do mundo, apertando o seu rosto enrugado por entre as grades.
Gostava de ver as crianças em suas bicicletas, não muito longe dali; os animais errantes, os pássaros sobre os fios de eletricidade e um aroma distante de almoço caseiro sendo feito. Se fizesse um esforço, fechava os olhos e fingia estar em outro lugar. Às vezes simulava-se invisível, desenhado seu desaparecimento por entre as sombras daquele espaço apertado onde fabricava a sua sobrevivência diariamente. Sem incomodar, mais que o necessário.
Elaborava rotinas simples que o ajudavam a esgotar as horas e debruçava-se, afoito, sobre uma estante de livros: o único (e raro) prazer que o fora permitido. Ele não tinha mais nada, absolutamente nada, a não ser aquelas roupas puídas que cobriam seu corpo, sapatos gastos, uma escova de dentes e um punhado de livros escorados uns sobre os outros, numa estante que ele fazia questão de deixar sempre limpa e organizada. Eram suas posses mais preciosas, seus portais secretos, suas ruas e avenidas que o transportavam para outros lugares onde ele se acreditava feliz.
Mas mesmo esse privilégio era controlado, verificado e autorizado. Sem excessos, sem exageiros. Como se aqueles livros inofensivos - quase inúteis - fossem um pecado ou crime de estado que mereciam punição. Os livros eram um benefício supervisionado que, com alguma ajuda e artifícios infantis, podia ser contornado. Com alguma criatividade, ele conseguia intercambiar aquela sua moeda amarelada em troca de leituras mais frescas, mais novas, que o deliciavam por dias até que ele se visse mais uma vez relendo todos os livros novamente.
Em dias mais felizes, conseguia simular sorrisos diante de um espelho envelhecido que quase não oferecia mais reflexo. Era onde acompanhava o seu inevitável envelhecimento. Em dias mais difíceis, escorava-se num canto, como uma criança, e derramava um punhado de lágrimas sinceras, soluçando em silêncio para não incomodar seu captor mais do que o necessário; o que nem sempre era possível e quando ele menos percebia, já estava sendo açoitado novamente. Sem entender ao certo o porquê. Os golpes em suas costas, deixando-o em carne viva, até ser devolvido à cela, onde se deitava com cuidado, estralando aquele corpo cansado, que rangia como uma porta.
A exaustão era o seu remédio. Assim ele via o dia desaparecer sob suas pálpebras. Até que um raio raquítico de luz, que atravessava o quarto pela pequena janela acima da cama, avisava-o que era hora de começar tudo de novo. Já não sabia mais a contagem das horas e dos dias e, para não enlouquecer, monitorava a passagem do tempo pelo crescimento de suas unhas, barba e cabelo, cortados em caráter espartano. Semanalmente, de três em três dias, mensalmente. Não havia como fugir.
Mas... e se ele pedisse o divórcio?
domingo, 10 de julho de 2011
segunda-feira, 4 de julho de 2011
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